EDUCAÇÃO: (IN)SENSATO PROFESSOR.

O que dizer ante a uma realidade que só nos frustra? Num País infame de atitudes e gestão ínfimas e pequenas, nossa realidade jamais poderia ser diferente: desvalorização da mão de obra dos professores, mistificação de conhecimentos. E pensar que todos passam pelas mãos de um Professor para alçar vôos maiores. Mas...

Ainda há quem defenda que tudo vai melhorar. Que seja!

O fato é que, ainda criança, ouvia falar (e éramos feitos cientes) de que havia Alfabetização. Hoje, há quem grite, pule e exalte a satisfação de termos diminuído este índice.

É... Não poderia ser diferente, já que tudo é número! Seguimos tendo quem force a barra e passe alunos; quem dê ordens e faça vários Professores trabalharem sob ameaças de punição caso não criem "um jeitinho" pra fazer alunos passarem de ano. E aqui surge uma nova modalidade: analfabetos funcionais - pessoas que conseguem ler, mas, não conseguem entender ou interpretar o que estão lendo; pessoas que não conseguem escrever o que pensam com eficácia e eficiência.

Acho que estamos voltando aos tempos do uso claro e objetivo de uma das frases mais queridas dos Imperadores da Roma antiga. Explico mais tarde...

É fato que vivemos a valorização dos números porque são estes quem regem os índices e projetam o Brasil como quem projeta um slide numa apresentação de um curta-metragem mal feito, desviando a atenção de muitos, ascendendo, numa linha descendente, quem é, de fato, ponta de lança na sala de aula.

Para mostrar que há investimentos, o gerundismo do marketing convencional é adotado pelos politiqueiros para justificar-se a frase "está sendo investido"; criam-se programas, formas de burlar e trazer a Educação ao topo de uma ficção científica.

Afirmam: "está sendo investido na ordem de milhões na Educação".

Eles estão certos e o resultado destes milhões de investimentos é este: milhões de professores frustrados, milhões de alunos mal educados, milhões de escolas sem estrutura, milhões de alunos mortos de fome que só vão a Escola por causa da comida, milhões de sub-contratações, milhões de profissionais desvalorizados, milhões de famílias desestruturadas, milhões de reais furtados do erário público...

Parabéns pelos milhões de resultados!

Há resultados positivos, claro! Porém, estes em nada refletem a realidade do que precisa ser feito de fato.

Pense:

Quanto o Governo está gastando e investindo no sistema de cotas? Nada!

É mais fácil não investir na Educação de base e criar ações falaciosas do que ensinar ao Povo: ensiná-los a pensar!

E quando questionados, apenas apresentam estatísticas. E o que dizer da infame doação de Laptops aos alunos da rede pública? É para mostrar que "estamos avançando"? Literalmente, mais uma vez, querem mascarar realidade: fornecer tecnologia a Professores que se quer sabem como usar ferramentas interativas, escolas sem acesso a rede virtual, estruturas físicas mal organizadas, junto com alunos que jamais aprenderam a ler de fato. Alunos "feras" na arte de "facebuquear, orkutar, copiar, colar, etc", estes mesmos que escrevem "pra mim fazer", "pra mim dizer" ou, ainda, o mais moderno "vem nimim!" cuja apologia é feita em "canções" ditas populares.

Sem contar com os erros grotescos encontrados DESDE SEMPRE nas Redações do ENEM que significa: É, (NEM) assim você aprende e passa!

Pergunta: porque só agora estes erros apareceram? Desde 1998 que isto existe e ninguém fala nada!

E sabe o que é pior? Há Professores burlando, reformulando, destruindo e refazendo a Teoria do Preconceito Linguístico e o confundindo com a Teoria da Variação Linguística.

Na prática, devemos considerar a Variação Linguística como forma de expressão popular e de identificação de idioletos - registro linguísticos de grupos de identidade própria. Já o Preconceito Linguístico tem um cunho político, social e de segregação e faz com que todos tenhamos uma identidade linguística. É por conta desta identidade que muitos passam a definir o uso adequado ou não de um Registro Linguístico.

Usar estes discursos de forma tripartida para apoiar uma total falta de estruturação sintática, gramatical e se sentidos, afrontando, inclusive, a básico da morfossintaxe é, de todo, ultrajante. É preciso conservar o mínimo da coesão e a coerência textual. Sair destes contextos é afronta o conhecimento adquirido pelo exercício da profissão.

Acredito que estes que defendem a manutenção desta forma de ensino possivelmente são os mesmos que adotam a política do "...quanto menos trabalho em sala de aula, melhor!". Não sei...

E o que dizer sobre os investimentos na Educação? Respondo retomando a ideia dita anteriormente pela menção das frases de maior uso pelos Imperadores da Roma antiga: (Panis et Circenses) - a já feita "política do pão e circo". Vamos esclarecer:

- Ao Povo, era dado apenas o direito de ter diversão e alimentação. Assim, a população se mantinha afastada das questões que realmente importavam. Então, "PÃO E CIRCO NELES" - o que hoje em dia seria: "LAPTOPS E INTERNET NELES"!

Pensa que só a Educação vive este "saber-fazer político"? Tive que repensar minha opinião... A coisa pública sempre foi uma "coisa", mas, ultimamente, ela tem alcançado o status de "coisinha":

É para Educação? Dá uma coisinha pra eles!

Uma vez namorei uma garota e escutei do pai dela o seguinte: "Rapaz. Cuide de arrumar outra profissão porque minha filha jamais será sustentada por um professor! Mude ou mude-se!" Mudei-me e mudei de namorada!

De todo, ele estava certo! A sua profissão determina o quanto você vale e o quanto podem investir em você ou o quanto você irá investir no outro ou na outra...

A tal profissão - Professor - vive sendo atrelada a um preço mínimo, a uma possibilidade mínima de investimentos mínimos não só pelo Governo Federal, mas por outras instituições Privadas e/ou Estatais. Uma vergonha...

E o que dizer dos investimentos feitos nas atuais obras da copa, das olimpíadas? Vai ver que são só estatísticas...

Falando novamente em estatísticas...

Lembro-me de ouvir frases estatísticas de esperanças; promessas e investimentos que apontavam para uma melhoria educacional desde 1980; e dos anos 90, recordo-me das Leituras Literárias feitas numa Escola Pública de valor inestimável onde cantava-se o Hino Nacional Brasileiro em filas e por turmas e tínhamos aulas memoráveis de Constituição Federal, Moral e Cívica e O.S.B.P. - Organização Social e Política do Brasil, todas atualmente excluídas do Currículo Escolar. Porque? Todas instituídas após a queda da Ditadura Militar. Àquelas Escolas, aplausos e muito obrigado aos meus Mestres!

Já nos anos 90, li muito sobre Autores Brasileiros que abordavam o jeito popular de ver a tudo e de tudo se ver: críticas, ironias, relatos de uma verdade que já escancarava os desmandos implícitos de uma Sociedade alienada de seus direitos, deveres e valores. Pensava inocentemente: isto é coisa da Ditadura! Puro engano...

Tudo bem diferente - e igual - do que se via na Ditadura e ainda se vê em 95% das Instituições de ensino hoje, só que, discretamente e com outras roupagens: um desrespeito!

A Política perdeu e está longe do stricto sensu da Licenciatura e da visão do bem comum; bem longe do real valor da coisa pública e bem perto de uma verdade prática e tácita: a coisa aliou-se ao Professor, e a pública aliou-se aos valores negociáveis do caráter de quem lidera; aliou-se aos analfabetos que desenvolvem leis, aos mentirosos que reinventam verdades.

Enquanto isto, aos que formam pessoas se (re)formam diariamente, cabe-se apenas um substantivo, um substantivo que foi adjetivado: desvalorização!

Qual a sua profissão? Poderia responder assim:

- Sou um (in)sensato professor!

Sim, porque, se eu fosse sensato, escolheria ser ou palhaço de circo e/ou humorista ou Torneiro Mecânico. Assim, eu aumentaria minhas chances ou de ser Deputado Federal ou de me tornar Presidente da República de um País cujo picadeiro fica em Brasília.

Carlos Maciel - Lingüísta e Educador.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 20/03/2013
Reeditado em 21/03/2013
Código do texto: T4198929
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