Grito
Vem cá, chega aqui, mais perto; vem comigo dividir o Cabernet barato de ontem, a casa vazia de gente e cheia de lembranças, cheiro de mar. Vem ver meu olhar sem graça, ao léu, opaco tendendo à desistência, que delata a falta que sinto de ti, teus dedos, tua companhia agigantando tudo de ínfimo e íntimo que já houve de mim. Vem, que sem você por perto a escuridão ofusca, o silêncio tamborila e há tanta dor que não vou suportar. Corre, vem amparar-se em meus braços abertos e cansados, e que já não suportam carregar tanto vazio. Preciso de todo o peso de uma vida sobre eles, preciso debelar minha fraqueza, transformar toda essa calmaria em tempestade; quero redemoinhos, furações, tsunamis, vendavais. Quero qualquer coisa que afaste de mim essa agonia.