Crônica de um sábado
O sábado me acordou bruscamente batendo na janela com força, pensei esbravejar, mas percebi que chovia...
Depois de uma semana negra, ela veio lavar minhas dores, meus temores e meus fracassos.
Não levantei, não movi um musculo sequer, apenas ouvi a chuva que caía.
Esse sábado acordou teimoso, ele queria me fazer sentir... Então me dei conta de que não importa o que possa vir, eu saberei me reerguer porque tenho feito muito isso.
A janela parecia sofrer com as rajadas, mas eu sorri. E entendi o que o vento me dizia e dancei sob os lençóis como ha tempos não fazia.
Tomei posse de cada centímetro de mim. Eu era minha novamente. Só minha!
Joguei meus livros no chão, sem perceber adormeci relendo os poemas de J.G. e as verdades de Maquiavel, eu joguei também os pedaços de versos que rabisquei nada ali valia a pena... Era dor, não era poema!
E o sábado apareceu glorioso, lavando com a chuva todos os pesadelos da semana toda, sussurrou gotas frescas no meu rosto quando decidi levantar abrir a janela, peito aberto, sorriso escancarado.
A chuva, o vento, o sábado... Tudo entrou num vendaval de mudanças e inundou o meu quarto. Sem sapatilhas dancei balé no piso molhado.
E enquanto os outros riam de mim, eu ria do dia, do sábado, da manhã, da vida.
Ah essa vida que prega peças e nos agride. Vida também que nos enriquece e nos permite viver em plena felicidade.
E nesse dia decidi aceitar as perdas e os olhos com lágrimas, porque também há sorrisos nos meus lábios.
E percebi que a natureza se comove comigo, como eu acreditava quando criança.
Quando meus sonhos eram gentis... Quando eu fazia desejos à primeira estrela que despontava!
Esse sábado foi gentil comigo, trouxe cores que eu não tinha mais na alma.
E esse céu cinzento era meu luto que desbotava!