Consternação
E continuava seu caminho totalmente desalmado, mas desalmado com ele mesmo...
Não conseguia ter mais um sorriso sincero ou um olhar gentil, se tornava cruel consigo mesmo... Não era mais aquele que um dia amou, era amado, se amava, era feliz.
Ao contrário, detestava a si mesmo, olhava se no espelho vez por vez todas as noites, todos os dias que era tomado pela amarga solidão e nada mudava, permanecia igual intacto, se sentindo sujo, largado.
Este saia, ia cuidar de sua vida ou o pouco que lhe restava, sentindo-se um peso nos próprios ombros, um descaso de amor próprio. Abatido, com os olhos baixos, longe... Bem longe de toda aquela realidade cruel e maligna que estava encravada em seu peito, aniquilado com todo aquela dolência amargurando seu peito, estava caminhando com um corpo vazio, observando dentro de si tentando lutar contra aquela perturbação que não o abandonava. Andava um passo de cada vez, com a intenção de jamais chegar em casa, queria se perder na imensidão do mundo, se perder... Mas já estava perdido, perdido dentro de si mesmo, lutando consigo mesmo... Mas quando chegava a noite, seus olhos secos, lacrimejavam lagrimas mais secas ainda, perturbado com os seus pensamentos tristes e angustiados, desolado em meio a uma longa noite, fria e dolorosa, seu único desejo era sentir-se em paz, sentir aquela sensação novamente...
Lembranças mexiam e remexiam, iam e voltavam, reviravam totalmente aquela mente, ele queria lucidez, ele queria sorrir, ele queria viver, mas estava preso em si mesmo, preso naquele momento, naquela lembrança, que voltava e voltava, deixando-o incapacitado, pensando que poderia ter sido melhor, poderia... Mas... Não, ele deu seu melhor, não que tenha sido em vão, mas ele se sentia assim, olhava para suas mãos, apertando elas fechando-a, juntos aos olhos, e os dentes rangendo, sufocado com tudo, principalmente com aquele fardo que o deixava em pedaços... Talvez um dia passe... Mas apenas um dia.