Um dia fui areia

Estou vazia. Sem idéias, sem palavras, sem nada. Não há nada que me faça seguir em frente. Que me faça sair do estado de inércia no qual me encontro. Estou paralisada. Não consigo me mover. Presa na areia movediça. E quanto mais me debato, tentando fugir, mais afundo. É uma luta a qual não posso vencer. E só me resta esperar; finalmente ser tragada por completo. Aí, já não há mais resistência; porque me misturo à areia e ela a mim. Somos uma coisa só. Já tão natural que ninguém irá perceber ou me sentirá falta. Já não se lembrarão mais de que um dia não fui areia. Afinal, nem eu lembrarei. Apenas milhões de grãos, mas sem forma, sem tamanho, sem sentido. Sem razão. Sem razão. Sem razão para viver ou para morrer. Apenas areia.