Intelectualismo.
Intelectualismo
Como chego nessa complexidade de me tornar um intelectual? Será que basta eu dormir com os livros, sonhar com as capacidades e fazer amor com o conteúdo?
Talvez eu tenha que buscar coisas além do que eu gosto de ler. Talvez eu tenha que ver nas prateleiras nomes escondidos e poetas mortos.
E, se eu reunir meu conhecimento com os que conheceram o conhecimento, talvez eu me torne um pouco mais agradável e mais bem vestido.
O difícil é quando começamos a usar roupas mais vistosas, e as pessoas creem e deduzem que nos tornamos pessoas metidas.
Será que se tornar um intelectual é ser metido, ou apenas chegar num ponto sólido de senso crítico, meios cabíveis para debater com a sociedade e desmascarar teses equivocadas?
Talvez eu queira ser, então, um intelectual. Andar de boina, fumar cachimbo, andar por aí de gravata borboleta e debater sobre cinema alemão.
Será que bastam a boina e o cinema alemão?
Pois o que vejo são seres passados, de anteontem, debatendo o que já não acontece mais (nada contra o cinema alemão).
Talvez eu tenha que comer os cactos e dizer que passo fome, que compreendo as questões; mas eu não quero.
Talvez eu tenha que sodomizar meus anseios e dizer que gosto do gosto que eles têm; mas eu não gosto.
Talvez eu encare as pessoas e diga a elas o que fazer, o que pensar, o que sentir; mas eu não sei.
Como chego ao respeito dos outros? Como chego, afinal? Renato F. Marques