O JUGO - APARÊNCIA
Para um moço do interior baiano, que vivera durante cinco anos na maior cidade do país, que comera o pão do sacrifício diário da vida, que viu de perto a violência do homem para com homem, que se sentira inseguro e impotente diante da pergunta para si mesmo: “que sentido tem a vida?” Creio que olhá-lo com desprezo, qual coitado, ingênuo seria injusto e até mesmo ridículo a quem o classifica deste modo.
Hoje, lendo os livros, percebo que por mais que sejam importantes as inquietantes perguntas e respostas para explicar, ou tentar, o homem e sua existência ou razão de ser, não é tão mais que valorizar cada um em sua unidade misteriosa de conhecimento. Relembrando Sócrates, o filosofo, somos todos, escravos e senhores, capacitados a “parir” ideias.
Afinal, “homem algum é uma ilha”. Estar em contato pleno com o mundo humano subjetivo e objetivo é beber o conhecimento diretamente no cálice da sabedoria.
Há muitos que mal conhecem o próprio mundo e vivem a julgar o mundo do outro por insignificante, subestimando o inteligir com um olhar fixado na aparência, pré estabelecendo um conceito errôneo. Se a inteligência fosse possível classificar por um padrão de beleza física, como faz a nossa cultura XXI, adotando a seletiva da antiguidade grega, estaria exterminada uma imensa parcela da humanidade. Lá, ainda se valorizava o intelecto, aqui é preciso adquirir status que coincidem com materialidade, ou, porque não dizer, uma extensa biografia.
Creio que, se Sócrates vivesse nos tempos científico-tecnológicos que são os de hoje, sua sabedoria filosófica nada valia diante de sua ausente beleza exterior, o mesmo seria “excluído” da alta sociedade porque sua aparência não se adequada ao padrão social contemporâneo. Sem dizer que ele, mesmo proferindo grandiosa sabedoria, jamais deixou escrito, por ele, um livro sequer.
Apesar de o progresso tecnológico e científico, vivemos ainda, o sistema arcaico de ver o homem, um mero objeto classificado por sua aparência.