Felizmente ainda me enganando
E nos enganamos uma vez, duas, três. E depois aprendemos a não mais nos enganar? Feliz ou infelizmente sinto afirmar que não. Continuamos nos enganando. O que talvez mude seja a forma como nos portamos em cada uma dessas vezes. Nas primeiras vezes adotamos um olhar pessimista, sentimos o peso vivo da decepção e temos a vontade de nunca mais vivenciar o que fora vivenciado e que tanto nos frustrou. O que talvez mude nas próximas vezes em que nos enganarmos -sim, meu caro, são incontáveis vezes essas- é que talvez possamos enxergar sob um ângulo curiosamente alegre. Quando tomamos conhecimento que estamos nos enganando a todo tempo não tentamos evitar o que não pode ser evitado, mas algumas coisas vão ficando mais claras e mais confusas. Meio paradoxal talvez possa parecer, mas por enquanto, digo, por hoje, parece fazer alguma lógica. Eu, sinceramente, só tenho a agradecer por muitas das vezes que me enganei. Muitos já acreditam possuir todas as suas ideias bem definidas, a experiência conseguiu consagrar o que não é consagrável, a capacidade de não mais enganar-se. Felizes aqueles que ainda não alcançaram esse estágio, onde tudo parece ser tão sem graça e lotado de previsibilidades.