Pai, te amo


Convivemos tão próximos da morte que dela nos esquecemos. Como irmã siamesa ela está sempre conosco, se interpondo entre o presente que se vai e o presente que chega, e muitas vezes sequer a notamos. Num dia estamos bem, e no outro podemos já não mais estar.
 
Um dia meu pai está bem, e no outro está num CTI. Num dia ele está alegre, falante, apaixonado pelos netos, e no outro entregue nas mãos de médicos e de maquinário de suporte a vida.
 
Num dia valorizo meu pai, como um pai, e no outro o valorizo como um herói que se afasta. Num dia sou grato, no outro me sinto um ingrato. Num dia estou feliz, me sinto recompensado pelo pai que tenho, no outro me sinto meio perdido, inútil e incapaz, depois de tudo que ele fez por mim, não tenho como o ajudar diretamente.
 
A vida está por um fio, ele pode se ir, e eu me sentirei um ingrato. Ele pode não mais voltar e, faz muito tempo, que eu não digo a ele diretamente que o amo muito e que sou muito grato por tudo que ele foi para mim.
 
Pai, independente do amanhã, gostaria de registrar que o amo muito, e que, ao meu modo, torço muito para que o senhor se recupere. Filhos podem ter orgulho de seu pai, mas eu tenho MUITO orgulho do senhor. Um pai sem instrução formal, mas que soube plantar a semente do amor pelo saber e pela verdade, que soube com seu exemplo me fazer valorizar o trabalho sério, que me ensinou a beleza do amor e que serviu de exemplo que em muito repeti para com meus filhos.
 
Pai, eu gostaria muito que o senhor voltasse para que eu pudesse abraça-lo de novo, pedir sua benção, beijar-lhe a testa e caminhar com o senhor para o trabalho. Amo-te muito pai.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 06/03/2013
Reeditado em 06/03/2013
Código do texto: T4173659
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