ESCRITOS NUM GUARDANAPO
Hoje não quero esperar, se encontrar algum sinal fechado, mudo a direção ou mesmo o destino. Hoje não quero arrancar as flores, ao passar pelo Parque, ao voltar do trabalho, contentei-me em contemplá-las sem roubar delas a vida. Sim, lembrei-me que depois de um tempo é inevitável que elas fiquem esquecidas pelos cantos, sem beleza e sem cor.
Hoje não quero encontrar qualquer rosto, pode até ser um rosto qualquer. Não quero risos forçados, nem forçar meu próprio riso, prefiro reclamar minha própria presença.
Posso está parada, sentar-me pra um café, talvez eu até adormeça, mas isso não será uma espera, apenas não há motivos pra ter tanta pressa.
Certezas? Hoje não as tenho, não as quero, basta-me o movimento, o sobe e desce da gangorra, mas, sobretudo, a ingenuidade da criança que brinca e a serenidade de quem, nesse sobe e desce, não teme à queda, não mede os riscos, não lembra que a ferida pode custar a sanar...
Outro dia contei a Ela sobre os meus medos, Ela me disse:
– Tudo passa! Arrependimentos surgem o tempo inteiro. Nós podemos nos arrepender até do ônibus lotado que, por impulso, decidimos deixá-lo partir.
E eu quero mais um gole desse café que esfriou junto com estas linhas.
Talvez eu sinta falta do alento dos beijos – até os com gosto de cinza – que não mais ganharei.
Por hoje estou imune.