Deserto

Todo deserto tem sua secura providencial

O vento desenha na areia

Aquilo que algum dia será caminho.

Vencendo a dureza temporária

O declínio submetido a sua aridez

Registrando a imagem idealizada

Da região tida como fértil

Inaugurando a esperança

Desacelerando o inevitável corte

Ou aquilo que damos o nome de norte.

O deserto é tão precioso quanto o oásis.

É no vale escaldante da dor

Que apuramos o sentido da existência

Vencendo as noites frias

E a sequidão dos dias.

É no deserto...

Que os pequenos fios de ouro deslocam

Cada pequena saliência

Dessa superfície granulada

Abrindo os espaços sedentos

Da efemeridade de cada intervalo.

É no momento de sequidão

Que provamos nossos reveses

É no entendimento das dores primárias

Que controlamos as dores secundárias.

É preciso abrir o leque

Desaglutinar planos irrealizáveis

Cheios de fantasia

E assumir a realidade de cada dia.

É pra isso que servem os sonhos

O resto é ilusão.

Não é nas quimeras que encontramos realização

Nem na idealização da irrealidade

É ao assumir nossa identidade

Que autenticamos nossa felicidade.

Mas cuidado...

Existe um deserto

Que abre a boca e engole os sonhos

Tira a permissão da alegria

Embaça o horizonte

Seca as fontes

Deixa cair o assombroso cinza

Relembrando cada eminente morte

E nos faz acreditar seres sem sorte.

Talvez esteja ai

O segredo do assumir nossa cruz

Distinguir cada deserto

E escolher o mais certo.

Lucinda
Enviado por Lucinda em 05/03/2013
Reeditado em 05/03/2013
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