Angustia
O grande milagre da vida faz meu corpo inteiro estremecer de medo. Um mundo tão indiferente que já não me sinto parte dele, tão incoerente e provocante em seus mistérios insondáveis que me perturba ao ponto de não mais saber o que é real. Sinto o pavor da angustia que devora minha alma aos poucos. Uma mente limitada tentando compreender as maluquices deste oceano universal, que sem saber nadar, me afogo neste mar existencial. Tão terrível sentimento que evoca os mais profundos medos da existência, sufocando sem matar a pobre essência da vida. O horror é refletido para onde quer que olho. O mundo tornou-se um espelho e só o que vejo é meu reflexo apavorado. O medo da vida se torna insuportável a um ponto enlouquecedor. A esperança na morte se esvai lentamente escorrendo por entre meus dedos enquanto a angustia estampa seu sorriso diabólico como sinônimo da minha impotência... Meu corpo tornou-se a pior das prisões. O suicídio passa pela cabeça como forma desesperada de escapismo, mas ainda assim sem esperança, pois nas camadas mais profundas de meu ser, uma voz argumenta que estamos apenas ensaiando.
O milagre da vida tornou-se um pesadelo do qual não consigo mais acordar. Grito em agonia para deus com as mãos em símbolo de oração. Mas só o que sinto é o vazio e a angustia de ter que continuar vivendo. Conflitos internos fazem da minha mente um campo de batalha, deixando rastros sanguinolentos de dor no final da guerra, restando apenas uma área desolada em processo de putrescência, e a única coisa viva é o choramingo angustiante dos ventos uivantes. Uma vontade gritante de chorar invade meu corpo sem pedir licença, rompendo a represa de lágrimas que jorram como enxurrada pelas órbitas dos olhos. Encolho-me num cantinho qualquer da vida e fico a assistir meu destino nefando...
Escondido em meios aos escombros do que ainda resta de mim, empreito a vida com olhos arregalados e temerosos, como uma criança perdida dos pais, esperando que a encontrem...