Aqui estou.
Perdido na cegueira de um ser que não consigo ser.
Entregue por omissão a uma existência que abomino.
Como posso aceitar?
 
Aqui estou.
Reflexo de mim mesmo.
Antígeno de mim mesmo.
Constructo repugnante e absurdo daquilo que não deveria ser.
Mera representação sem conteúdo, de um sonho irreal, de que posso ser humano sem me envolver em responsabilidades com os demais.
É fácil ser eu quando ser este eu é ser qualquer um ou qualquer coisa.
É difícil ser eu, quando este eu deveria ser alguém que verdadeiramente ame, que verdadeiramente lute pela dignificação de todos, que verdadeiramente se exponha pela humanidade de si mesmo, em uma humanidade que deveria ser de todos.
É simples ser eu se este eu que venha a ser não seja nada além de um eu sem humanidade.
É complexo ser eu, quando ser este eu é ser sinônimo de ser responsável e ativista em nome de um amor construído herculeamente em nome de um social digno e de um pessoal humano.
 
Aqui estou eu.
Sendo um vazio de humanidade.
Sendo um qualquer que nada é, ou melhor, sendo um qualquer que de humano quase nada é.
Mas aqui estou eu.
 
 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 24/02/2013
Código do texto: T4156470
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