DAS MORDAÇAS

No início da madrugada de 24 de fevereiro de 2013

Um ser amordaçado, não pelos seus próprios afetos, que os continua sentindo; amordaçado pelos afetos desencontrados, a seu respeito, de alguns seres, como os de um ser de seu próprio sangue, seres que não o estão compreendendo mais, aos quais também o ser amordaçado não está conseguindo compreender, por motivos que... não vale a pena nem se poderia aprofundá-los,aqui,a tais motivos.

É terrível a tal ser constatar tal fato nesta sua vida que ele nem sabe quanto tempo mais vai durar... É terrível não saber o que fazer para tentar restaurar afetos, desfazer dolorosos mal-entendidos e equívocos absurdos, refazer caminhos, de novo, sobre novas bases. É terrível, mais uma vez, constatar a linguagem como instrumento que destrói pontes e certezas que se pensava ter, tão terrível quanto saber que tal destruição ocorre porque ela, linguagem, se havia colocado e ainda se coloca a serviço da reconstrução de outras pontes, para o restabelecimento pleno de outras verdades que se urgia e que se urge restabelecer, em outros planos que não os da amizade e os da fraternidade entre irmãos - parece pura redundância "fraternidade entre irmãos": não o é.

Escaramuças, artimanhas de linguagem... Foi para isso que se veio a esse mundo? Por carências múltiplas, pela não aceitação da mudança efetiva no teor dos afetos, mudança que já devia ter sido compreendida e assimilada há muito, há demasiado, há décadas e décadas?

O ser amordaçado se sente muito só e com saudade de perguntas simples, como: “Como você está?” – e, claro, saudade de um ser “perguntante” com a devida paciência para ouvir as respostas - bem como sedenta da pergunta : “Há algo que eu possa fazer?” Perguntas de amigos a amigos. Perguntas que um irmão, por exemplo, deveria e teria o dever de fazer a uma irmã a morar solitária com a própria mãe. A uma irmã tão abdicada de si.

Desculpem, amigos, pelo desabafo. O Recanto é um lugar onde "ainda" consigo respirar.