ONDE ESTÁ A FELICIDADE?
 
Não é título de filme, de fato é um questionamento que quero dividir com todos. Onde será que podemos encontrar a felicidade que tanto procuramos? Resposta difícil. Você já prestou atenção que somente os adultos se preocupam com essa “felicidade” tão sonhada. Nem adolescente pensa em felicidade. Para provar recordo há alguns anos quando uma adolescente me disse que o que queria da vida era apenas uma casa simples e um fusca, segundo ela dessa forma estaria feliz e teria tudo o que precisava. Já para os pequenos a felicidade é poder brincar, ganhar presentes, e um luxo que muitas vezes não chega a um salario mínimo.
Mas para os adultos a felicidade é distante e cheia de riquezas. Claro que não vamos generalizar, mas você conhece alguém que possa afirmar com todas as letras que é feliz!? Mas feliz mesmo!?
Dia desses eu e meu filho número três, estávamos tomando um café quando fomos abordados por um senhor que distribuía um panfleto. Imediatamente peguei para ler. Sou assim, costumo ler tudo, até o que não deveria ler. O panfleto ofertado falava sobre uma espécie de consciência sobre nossa origem e para onde vamos. Fiquei impressionado com o que li e quando cheguei em casa fui acessar a internet para saber mais sobre a mensagem. Fiquei olhando até lá pelas tantas da madrugada. Achei muito interessante.
Na semana seguinte, no sábado, lá estávamos novamente, como de costume no mesmo local. Quando novamente aquele senhor educadamente pediu permissão para interromper a conversa e nos ofereceu o panfleto. Recebi e disse que já havia pegado na semana passada e contei a ele sobre o que li na internet. Em minutos estávamos no maior bate-papo, como sou falador rapidamente estávamos falando sobre algumas teorias etc. quando ele me ofereceu um pequeno livro por um valor simplório. Aceitei e comprei o livro e comecei a ler.
Quando já estava em casa, continuando a ler o livro parei num trecho que muito me chamou atenção e queria dividir com vocês, vejamos: “...porque o mundo é de lutas, e onde há lutas, há sofrimento e não há felicidade. Uns, lutam pelos amores, outros, por negócios, outros, para melhorar de vida, outros, com doenças, outros, para vencerem seus ideais, na esperança disto, na esperança daquilo, na esperança de alcançarem o que desejam. Enfim, a vida é de lutas e onde existem lutas não pode existir felicidade. Existe sim, o sofrimento e o sacrifício”.(ipsis litteris)
Plagiando Odorico Paraguaçu, o escritor foi “deverasmente” feliz ao escrever isso, tive que concordar em tudo, sem tirar nem acrescentar nada. O texto me remeteu a um passando de treze anos, quando saí da cidade de Manaus, em um possante barco de um amigo, Aldyr Cajuhi, que durante 32 horas subindo o Rio Negro, chegamos ao Rio Jauaperi, já em Roraima. onde se pesca e pega dos melhores tucunarés, assim como podíamos pegar uns patos selvagens. A paisagem, a viagem, as companhias dos amigos, tudo foi perfeito. Inclusive algo que muito me marcou na vida.
Meu amigo, proprietário do barco, costumava juntar as roupas usadas, alguns objetos, utensílios, e sacolas de produtos não perecíveis e levava para doar aos ribeirinhos, aquelas pessoas que moravam “no fim do mundo”, onde você navega horas sem ver um único cristão, somente a imensidão da floresta e água. E a pessoa responsável em receber e dividir era uma certa senhora, chamada dona Maria. Quando chegamos no lugar, um braço do rio Jauaperi, muito verde, água bem negra, um silêncio sepulcral, os moradores vieram nos receber. Essa senhora dona Maria, de aproximadamente uns 80 anos, trazia no rosto uma alegria que me emocionou. No primeiro diálogo dei boa tarde e ela ao contrário de responder, me deu um abraço tão apertado que não contive às lágrimas, engasguei, mas querendo dar uma de machão disfarcei. Senti como se fosse minha falecida mãe me abraçando.
Dona Maria saiu cumprimentando todos, um a um, e depois retornou para prosear comigo. Fiz algumas perguntas para ela, perguntei sobre a falta de TV, rádio, energia elétrica etc. e as condições de vida, já que a casa era simples, inacabada, coberta de palha, um metro acima do chão em virtude dos riscos com cobras etc. ela pegou em minhas mãos, mãos grossas, de quem pegava pesado na roça, e olhando nos meus olhos dirigiu um foguete no meu coração, com a seguinte fala: “meu filho, eu não sinto falta de nada disso, porque nunca tive. Aqui nasci e sempre vivi, o que preciso é do pó de café, um açúcar, um arrozinho, se tiver um feijão e o resto nós pegamos na própria natureza”. E para me “destruir” de vez, caí na besteira de perguntar para ela se era feliz? Ela respondeu: “olhe para mim e responda você mesmo, com um sorriso nos lábios e os olhos que pareciam ver o meu interior”.
Até hoje não consigo conter as lágrimas quando recordo desse momento, tive que ir para o barco tomar um banho demorado para poder chorar embaixo do chuveiro e disfarçar o que sentia. Foi inesquecível, que lição de vida.
Aquelas simples palavras, mas de uma profundidade imensurável mexeram comigo, com a minha forma de ser, de ver a vida e a partir dali tive menos pressa, fui mais devagar. Deixei de correr tanto, passei a ver a minha própria vida de forma diferente.
Dizem os sábios que a falta de uso da memória, atrofia, eu andei esquecendo da dona Maria, mas fui cobrado a tempo pelo livro do meu mais novo amigo, que me fez recordar e viver novamente as coisas simples da vida, onde de fato posso encontrar a felicidade, como exemplo: esfarelar um pão e jogar aos passarinhos, pisar na grama do parque, olhar a queda d’agua de uma cachoeira. Fazendo isso, serei feliz, porque estarei desligado das disputas, das expectativas e dos sofrimentos. De fato, estarei praticando a imunização racional.