Morte e renascimento.

Eu precisava morrer. Era a única solução para todos os meus problemas. Eu destruiria todos os meus valores, crenças etc. E daria fim a tudo para que, finalmente, pudesse renascer.

Seria uma experiência libertadora. Enquanto pensava nisso, via minha vida social ir pelo ralo em direção ao esgoto. Eu estava sendo difamada... Diziam que eu era louca.

Não que fosse de todo mentira, até fazia certo sentido. O que não fazia sentido algum era minha existência falida. Eu procurava, incessantemente, pela quintessência ou sei lá o quê.

Minhas sinapses já estavam - a essa altura - enfurecidas. Corriam por caminhos inóspitos e viajavam a desertos, onde a aridez mental predominava. Eu já estava cansada.

Acendi um cigarro. Era meu primeiro cigarro, nem sabia tragar direito. Mas eu queria ver a fumaça se dispersar através do ar. Ah como eu gostaria de me dissolver na imensidão do eu-superior. No entanto, já não me importava muito. Eu estava perdida. Perdida em mim mesma.Já havia meditado sobre qual era meu problema. E percebi que era algo genético, algum tipo de memória ancestral passado de geração à geração como uma maldição. Eu não era nada, nunca fui nada e minhas pretensões me levavam direto ao ponto de chegada que era o ponto

de partida: a nulidade. Com tais pensamentos, me dirigi à cama, quando senti um braço masculino me impedir.

- Eu sei o que você está sentindo agora e não vou cobrar nada de você. Apenas vamos curtir, está bem? - Ele me disse.

- Você, inconscientemente, me cobra seu amor. E eu não posso lhe dar coisa alguma, eu não posso amar sequer a mim mesma. - Respondi-lhe.

- Não importa, já me basta cuidar de você.

- Não preciso da sua ajuda.

- Olhe para você, está completamente dominada pelo vício de se flagelar. Sinto que não posso deixá-la sozinha. - Ele me fitou preocupado.

- Por que você não é um sujeito normal? Arranje uma garota para trepar e veja se me deixa em paz.

Ele então me olhou profundamente nos olhos e percebeu que a hostilidade era só uma máscara vagabunda e que, na verdade, eu compartilhava de seu sentimento. Havia certa reciprocidade.

Mas eu não era ciumenta e, de fato, ele precisava conhecer outras garotas.

- Ei, não fique assim, odeio vê-la deprimida - Afagou - me o cabelo.

Então, eu chorei em seus braços. Eu sei, foi meio ridículo, mas não me contive.

- Me ajude a morrer, por favor!

- Como assim?

- Eu preciso assassinar todos os meus valores,toda a minha subjetividade para descobrir o que é real.

- Que bobagem!

- Pensei que me entenderia...

- Vá descansar! - Ordenou-me e assim o fiz.

Fui dormir com essa ideia na cabeça, mas será que me matando eu enxergaria o mundo tal qual ele é? Ou seria apenas aparência? Quem sabe tudo fosse maya.