Diálogos do inferno
Pensei em fazer um exercício, aliás foi-me sugerido isso, aonde eu pudesse conversar comigo mesmo. Se fosse só para falar sozinho, ainda vá lá. Mas é para dialogar. A princípio pensei ser isto impossível, mas à medida que fui dando vazão, apenas aconteceu. Está cru, não foi revisado.
Os personagens são o externo e o interno. Não sei ainda se o interno é somente o de dentro ou se ele está recluso, internado...
Externo: quem está no comando?
Interno: não sabemos.
E: como não sabemos, que plural é esse? Eu perguntei para você, pessoa única.
I: ora, como se fosse simples assim. Aqui dentro tem: o alegre, o triste, o solitário, o desconfiado, o paranóico, o disciplinado, o estudioso, o arteiro e o artista, o leitor, o escriba, o encrenqueiro e o pacificador. Um monte de gente como podes ver.
E: Mas isto não são pessoas, são personalidades...
I: portanto, a cada vez somente uma delas é que manda e no momento não sabemos ao certo.
E: Então pergunto: qual o clima.
I: céu de brigadeiro sujeito a tempestade tropical com direito a jogar merda no ventilador...
E: interessante...
I: lá vem o passante...
E: passante?
I: transeunte, melhor dizendo.
E: de onde saiu este? Este ainda não foi apresentado.
I: o transeunte é aquele que passa pela vida, pelos momentos, e nada vê. Depois precisa recordar.
E: recordar é viver...