O início e a descoberta AUTISMO
Em 2005 realizei o sonho de grande parte das mulheres, tive meu segundo filho. Luiz nasceu em julho, eu com 29 anos e cheia de expectativas para com minha nova rotina. Imaginava dias vagarosos, deitada na rede de casa, passeando no sol com meu filhote, curtindo esta fase anunciada como mágica... Mas Luiz era inquieto. Nasceu lindo, logo ficou bem gordinho e sem nenhuma constatação de doença. Queria sempre ser balançado, fosse no colo ou no carrinho. Era impossível sentar no sofá em casa ou em um banco na praça, pois ele chorava, queria movimento.
O tempo foi passando e notamos que ele não fazia algumas coisas comuns às crianças de sua idade: não se interessava por outras crianças, não brincava com carrinhos e bola, era muito agitado, não atendia quando chamado pelo seu nome e apresentava atraso de linguagem, assim como não mantia contato com nenhuma criança na creche, sempre estava distante, brincando sozinho.
Assim, quando Luiz tinha dois anos e meio, a creche que ele freqüentava desde o 07 meses, nos enviou uma solicitação pedindo que o levássemos ao médico,pois desconfiavam que o Luiz fosse surdo, desse dia em diante segui-se uma bateria de exames pelo pediatra, que encaminhou para um neuropediatra que por sua vez encaminhou para a Unicamp na Psiquiatria, resultados de exames todos normais, dentro dos parâmetros c junto com uma equipe de 06 profissionais constatou-se o diagnóstico: autismo. Naquele dia choramos muito e vi meu sonho ruir. Meu lindo menino, tão perfeito fisicamente, estaria fadado a isolar-se em seu mundinho, sem compartilhar as alegrias e tristezas que a vida nos oferece.
Os progressos e dificuldades
Hoje Luiz tem sete anos. É alegre, carinhoso e companheiro, adora passear, tem paladar exigente, assiste à televisão ao meu lado. Freqüenta uma escola especial e faz atendimentos no CAPSI da cidade, Fazemos a terapia com o cavalo que compramos pra ele o qual ele chama carinhosamente de Preto com o auxilio da prima do pai dele que é veterinária e do namorado que é professor de ecoterapia, trabalho em casa com o Luiz com um PC para crianças estimulando a coordenação motora e também a alfabetização, com alguns jogos pedagógicos eu e o pai dele estimulamos a conhecer cores, letras, e formas geométricas. Qual a diferença dele para as demais crianças?
Luiz ainda não fala frases compreensíveis, emite muitos sons, sílabas e dissílabos, às vezes algumas palavras. Acena afirmativamente ou negativamente em algumas ocasiões, quando questionado se quer ou não algo. Precisa de auxílio para as atividades diárias como escovar os dentes, escolher a roupa, se vestir, tomar banho,Já consegue ir ao banheiro e se alimentar. Já está acompanhando os trabalhos em sala de aula, permanecendo sentado em grupo por bons períodos. Adora a escola, as professoras, pajens e seus colegas, expressando o que sente à sua maneira. É extremamente afetivo e seduz a todos com seu jeitinho único. Conquista as pessoas quase sempre de imediato, com seu rosto lindo, sorriso inocente e o afeto que transborda em suas atitudes.
Luiz, reconhece a diferença entre ele e as demais crianças, o que às vezes o deixa nervoso, exibindo estereotipias motoras e recusando-se a cumprir as atividades propostas.
Especial, eu?
Meu filho é uma caixinha de surpresas, que desperta sentimentos ambíguos em mim: frustração e admiração. Ser mãe de uma criança especial me faz ouvir algumas vezes as seguintes frases: "Você é especial" ou "Somente pessoas especiais recebem esta missão". Sei que as intenções são carinhosas, mas essas palavras de "estímulo" sempre me causam desconforto, pois eu bem sei que nunca me preparei para esta tarefa, e ainda hoje não me sinto preparada.
Me pego muitas vezes impaciente e irritada com o trabalho que um filho com necessidades especiais requer. Os dias são agitados e a atenção é constante. Mesmo em locais fechados há as escadas rolantes, as portas de elevadores, tudo que a maioria das mães vê como ameaça por apenas uns dois anos. Para mim esta cautela já dura sete anos e não há prazo para acabar.
As noites insones são corriqueiras e quando há a felicidade de um sono ininterrupto de oito horas, durmo em estado de vigília, como se a qualquer momento o sonho vá acabar. Que ser especial sou eu? Sou somente uma mãe tentando fazer o meu melhor, proporcionando as vivências necessárias ao desenvolvimento de meu menino, errando e acertando como qualquer ser humano desejando apenas o respeito, compreensão de todos e retribuindo o amor que ele se esforça tanto para expressar.
Desejos e a alegria da realidade
Às vezes sonho que ele não tem autismo. O mesmo garoto lindo, carismático e exigente, porém pedindo presentes, avisando sobre festinhas de colegas, convidando amigos para brincar, contando histórias de seu dia e outras imaginadas, perguntando sobre o mundo que o cerca. No entanto, me alegro quando vejo as pequenas descobertas e aquisições do meu garotinho, a execução de uma solicitação como alcançar os tênis, fechá-los, acender uma luz, abrir uma porta, tirar a roupa, dar um beijo. Coisas tão simples, mas que para uma mãe e um pai de uma criança autista são presentes que despertam a esperança de um futuro promissor.
Estímulo sempre!
Até onde ele vai chegar não sabemos, mas escolhemos a forma mais saudável, a da inclusão social, que requer enfrentamento diário de obstáculos, o convívio com crianças normais em uma escola regular, a descoberta de aptidões através do exercício físico e o estímulo cognitivo e emocional através de pessoas qualificadas e apaixonadas pela educação da criança especial.
Não existe uma fórmula de sucesso para o prognóstico favorável de crianças com autismo, mas acredito que existe um caminho de esperança: o da dedicação e do amor, ingredientes indispensáveis para o desenvolvimento pleno de qualquer indivíduo.
Texto original de Silvia Sperling adaptações de Lucilene Pastorello, mãe do Luiz 07 anos autista.