O amor que eu quero...

Quero um amor que me devore, que não caiba em mim, que seja preciso um recipiente a mais, um mundo a mais...

Quero um amor que se renove feito estação, que tenha tempo para renovar as suas folhas, tempo que me faça sentir frio, medo da perda, tempo que seja ensolarado, que assim surja feito fogo a me devorar em sua chama infinita, tempo que venha devagarzinho, germine sua semente e me encante com a beleza de suas cores, de suas flores...

Quero um amor que me renove, que me beba, que me cuide, que me deixe, que não me deixe ir. Quero um amor que me tome, que faça meus dias diferentes, que me faça sentir única!

Não quero um amor louco, tortuoso, demente... Não quero um amor só de fogo, nem só de brasa... Não quero um amor tímido, recalcado, retraído... Não quero um amor poeta, refinado, com cheiro de vinho doce... Não quero um amor branco, nem preto!

Quero que ele me tome pela mão, que todos os dias me surpreenda, que me tire do chão mas que também me dê um chão. Quero que ele venha devastando meus conceitos de vida, quero que seja artista sem ser dramático, poeta ou teatral, quero que seja tudo isso misturado.

Talvez eu me conforme um dia com o amor que não me complete, talvez eu até seja feliz com o amor que não escolhi, mas não morrerá em mim o retrato do verdadeiro amor...

Quero a mistura do insano com o sensato, mas nunca os dois separados!

Estou cansando, talvez o problema seja eu, talvez eu não saiba amar, talvez eu não saiba o que quero, e todas as palavras ditas não passem de um grito sem voz.

Amar... quero o amar, quero a casa branca, quero a rosa vermelha, quero fica no meu cantinho com um livro velho e amarelo, quero pintar meus olhos de preto e sair pra dançar, quero gritar até cansar, quero olhar teus olhos profundo e beijar teus lábios de maneira mais profunda ainda, quero me rasgar em palavras... e no fim, quero que reste somente minha forma de amar, quero que sobre somente sobras do amar, quero que a poeira deixada seja luminosa, seja de dois corpos, dos nossos dois corpos...

Quero um amor de sonhos, indecifrável, de ligações na madrugada, de chegadas inesperadas, de presentes enrolado em folhas de jornais nunca lidos. Então correrei até o palco onde encenas esse amor perfeito e lá me farei a atriz principal... e lá serei a amante dos teus olhos.

Raquel Saraiva