Inocência Inventada
Falando sozinha, de cara com a parede, porta batendo no fundo. Cabeça coçava, corpo grudava, voz falhava e urgia pra escapar. Era claustrofóbico. Ela berrava de uma maneira afônica, a garganta se debatia nas secas cordas vocais, mas os lábios permaneciam cerrados. Fez-se de refém. De quê? Seria lírico dizer de si mesma, mas não. Ela inventou alguma dor, alguma sujeira só para livrar-se do fardo de andar e sentir os calos no pé. Covarde com orgulho, altivez, até macheza. Martír dos dedos carcomidos, via beleza no odor do lareira queimando os retalhos do que nem fora mas sonhara, ah, se sonhara, em ser livre de toda essa meninice.