Pesadelo
Tive um pesadelo essa noite. Envolto em medos, onde não sabia se estava viva ou não. Dilema: Sonho ou realidade?
No primeiro momento, um jovem num caixão me chamou atenção.
Era lindíssimo. Uns 20 e poucos anos, pele alva e cabelos negros. Mas o que mais me atraia não era a beleza, mas o seu corpo que inacreditavelmente se movia, talvez espasmos musculares.
Se não fosse pelo lugar que ele repousava, poderia jurar que ele estava dormindo e tendo pesadelos, pois tudo nele transmitia dor.
O belo moço dava suspiros e suas pálpebras se moviam de vez em quando. Parecia alguém queimando numa fogueira ou levando choques elétricos.
Diante dessa cena minha reação foi gritar, o mais alto que eu podia:
"Ele está vivo. Tirem ele daí"... Meus gritos eram ignorados.
Só então me dei conta que som nenhum saia da minha garganta. A única pessoa presente no grande salão, um grande amigo meu, chorava atordoado.
Nunca vira a morte por um prisma tão doloroso. Ele fitava o morto, alisava seus cabelos e indagava o tempo todo a razão para uma morte tão trágica. Eu queria intervir... Pelo defunto, por meu amigo, precisava fazer algo.
Minhas mãos tocavam o tórax do morto como na esperança de possuir um desfibrilador. Mas a sentença estava dada.
Ele estava morto e mais nada poderia ser feito.
Era o fim.
Meu pesadelo já confuso, muda de rumo. Eu não era um ser vivente, não no prisma terrestre. Meu espírito é que contemplava essa cena narrada a pouco. Minha compaixão pelo jovem lindo era tão grande que não reparei que a morta em questão era eu.
E diferentemente do moço, ninguém chorava por mim.
Nem eu mesma.
Acordei ofegante, checando meus batimentos cardíacos. Lembrei-me por fim, e para meu alívio, que não houve velórios e dentre mortos e feridos, como diria minha mãe, salvaram-se todos.
Mas a cena me acompanhou o dia todo.
Flashes me consomem de vez em quando.
Não entendo se tudo isso me quis dizer algo ou se nada mais é que imaginação. Não sei nem saberei nunca.
Apenas que ainda vivo.
De forma precária, errante, medrosa...
Mas vivo.