Quem é ela?...

Ela não sabia o que a esperava do outro lado da porta, estava cansada, confusa, com o peito apertado, precisava respirar...

Lá estava ela ofegante, exausta, suas pernas bambas, mas precisava caminhar...

Suas roupas claras, um tanto encardidas de tanto tempo a se arrastar...

Estava cansada, precisava seguir em frente precisava caminhar...

Ninguém ligava pra ela, ninguém a via, estava perdida, escondida em um lugar qualquer...

Sem a devida atenção, sem um pingo de consideração, deixada de lado, a míngua, deixada a própria sorte, mesmo sem sorte ter...

Esforçava-se tanto, mas as pernas não obedeciam mais, estavam enfraquecidas, esquecidas do caminhar...

Ninguém lembrava teu nome, tua razão, tua função ou o que quer que fosse, era uma qualquer, esquecida e escondida em um lugar qualquer...

Sentia frio, fome e sede, não tinha forças para gritar, pedir ou se fazer notar, estava fraca, abatida, quase sem forças, quase sem ar...

Quase...

Ainda havia vontade ali, ainda havia esperança ali...

Abrir a porta da clausura, ver novamente a luz, tentou então...

Suas pernas desacostumadas a andar sucumbiam, já haviam desistido de caminhar, mas se por um lado teu corpo se entregara a vontade que ali residia, bravamente resistia, fez valer então tua vontade, pôs se a caminhar...

A duras penas, como o caminhar de uma pequena criança, após uma queda ou outra seguiu em frente, seus joelhos esfolados doíam menos que a indiferença que sofrera, tua clausura era mais sufocante que este esforço ao caminhar, ao tentar...

Chegou então nos limites de sua prisão, e notou não haver trancas ou portas, muros ou correntes prendendo-á ao chão...

a barreira era invisível, ninguém podia ver tuas correntes invisíveis, sufocada mesmo de frente para uma corrente de ar ou seu desfalecer de olhos abertos, havia tanto barulho ali que ninguém escutaria teus gritos de agonia...

era dia, dia claro, mas ninguém a via sem forças, sucumbindo de solidão...

havia muita luz ali, mas ninguém notava que ela estava na escuridão...

Era uma prisão sem muros, nas trevas da luz do dia, no silêncio ruidoso da metrópole, onde tudo faz tanto barulho que não se é capaz de escutar alguém pedir por socorro...

No coração da cidade sem coração...

Ali ela sucumbia...

Nenhum olhar de compaixão, nem ao menos um olhar qualquer...

Nem ao menos uma mão estendera para ajudá-la, nem notaram que ali estava mesmo após sua solitária libertação...

Caminhou entre aqueles indiferentes, ninguém jamais notaria tua aparição, tantas propagandas, cheias de luzes, necessidades e promoção...

Caminhou entre aqueles que nunca lhe olharam nos olhos e desapareceu, ninguém viu, nem soube o que aconteceu, naquele dia ou num dia qualquer, os dias são tão iguais por aqui, que hoje ou amanha, tanto faz...

Ninguém sabe o nome dela, se justiça compaixão, verdade ou perdão, se é esperança ou humanidade, honestidade ou coração, o que se sabe é que ela se perdeu bem no meio da cidade, nunca mais foi vista desde então...

Zeu Rodrigues
Enviado por Zeu Rodrigues em 15/02/2013
Código do texto: T4142165
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.