(Eu) O Bicho-Homem
E estive eu a olhar o mundo da minha pequena janela.
E das coisas que vêm do Criador.
E observo que Ele está a nos igualar constantemente.
Ao mesmo "nível" do que realmente somos...
Tão pequeninos grãos de areia.
- "Do pó ao pó."
E as flores nascem para todos... E os tsunamis também.
O Sol nasce para todos, sem qualquer distinção:
De raça, de cor, de credo, de opção sexual, de "tribos"... De pátria.
Eu nunca vi uma nuvenzinha chover apenas sobre uma pessoa.
A não ser por "opção" nossa...
Quando queremos mesmo "fechar o tempo nosso".
Quando chove, chove à todos!
Maravilhosa a chuva que arrasta a tudo.
E nós... Pequenos que somos...
E resolvemos tentar "discernir":
Bem e mal...
E tudo tão relativo sempre.
De mãos dadas aos interesses sempre humanos:
Bem e Mal.
E se resolvemos ser "amigos" de um alguém - Seleção.
Ou porque não coloca as "pernas de fora".
Ou porque usa "longo" e "gola rolê" pela vida.
Mas o que será que esse alguém guarda embaixo dos "tantos panos"?
Ou detrás da sua boca sem o batom carmim?
O que será que esse alguém sufoca...
Ou quanto será que "paga" no preço da vida para isso ser-se assim?
E, se estamos nas ruas, "bem acompanhados",
E passamos pelo "jardineiro" da nossa morada,
Nem sequer o cortejamos.
Ele!... Que cuida das nossas flores!...
Há carinho e gentileza maior do que cuidar das nossas flores?
Isso tudo é uma linguagem metafórica... claro.
Mas o fato é que vem a morte...
Perfeita criação e Criador - Um Grande Findador!
E nos iguala a todos!
Uns têm uma festa fúnebre mais bela e saem até na televisão.
Outros partem num funeral indigente... Mas era Gente!
Ah... Mas o defunto não importa-se nada com isso... Oras!
Isso é sacanagem de vivos!
Mas o fato é que voltamos ao nada que somos.
- "Do pó ao pó."
Sábia a morte!
E é por isso que eu amo os bichos.
Não venho aqui dizer que nunca cometí eu os meus "deslizes".
E os cometo-os ainda e sempre são tão tentadores no meu verbo e ação... Humana imunda que sou!
Mas ando cada dia menos gostando de gente.
Ando cada dia menos gostando do que eu fui,
De algumas coisas que ainda estou.
Coisa! Isso mesmo!
Coisa estranha que sou!
E é por isso que eu prefiro os bichos.
E eu queria muito ser igualzinha à eles!...
Mas trago a sina nefasta de ser humana!
E quero envelhecer sendo um nada feminino e gracioso.
Um nada velhinho, cheiroso e repleto de coisas minhas para contar.
E quero estar cada dia mais nada!
E, quem sabe assim, chegar mais perto dos bichos,
Que são tudo...
Mas nunca têm, sequer, a pretensão de serem coisa alguma.
Ando farta da hipocrisia... E de mim!
- Ó, Criador... fazê de mim um bicho-nada, gracioso!
Eis que eu sou um bicho-homem estranho...
E sempre tão longe de Ti.
Karla Mello
12 de Fevereiro de 2013