Preguiça

Tantas incertezas. Mil pensamentos, possibilidades, sonhos e fantasias. Nenhuma certeza. Não importa o que você faça, ou tenha vontade de fazer, nada dá certo, pois você não tem a tal força de vontade que tanto falam por ai.

Deve ser bom fazer o que se gosta e viver disso. Deve ser bom traçar metas, se esforçar e alcançar o objetivo. Deve ser bom ser bom em alguma coisa. Ter o que dizer quando te perguntam o que você faz da vida, quais seus sonhos, talentos ou hobbys.

Pergunto-me como deva ser deitar para dormir e ter um motivo para acordar. Compromissos, dividas no banco, no açougue ou supermercado. Comprar aquilo que você quer com seu próprio dinheiro. Ter uma casa, um emprego, esposa, filhos, amantes, sogra e sobrinhos. Um almoço de domingo na casa da vó dos seus filhos, um cigarro na varanda depois da refeição, um drinque antes de dormir. A vida que é tanto divulgada pelos veículos de comunicação.

Escrever algo que agrade as pessoas, viver da escrita ou do jogo, sonhos adolescentes que passam despercebidos pela realidade. A força de vontade, mesmo se existisse, não compensaria a falta de talento. A formula mágica de encantar com as palavras que parece que todos têm; menos você. Mas mesmo assim você escreve algo, esperando que leiam e que talvez, por pena, elogiem e incentivem. Palavras falsas, você sabe disso, mas isso não te impede de sorrir consigo mesmo, navegar no mar das ilusões.

Então você olha para tudo isso e sente raiva de si mesmo, da sua existência sem sentido, do que chamam de vida. Dizem que você só tem uma, e que deve aproveitar ao máximo; mas não falam nada sobre sua vontade de não existir; de não ter mais a liberdade da juventude ao seu lado, responsabilidades, dividas no açougue, esposa, filhos, vícios, sorrisos falsos em reuniões familiares. Não falam nada sobre a preguiça de viver e de escrever sobre a vida.