João e a questão do livre-arbítrio
João estava sozinho e começou a pensar em um fato que haviam lhe dito e ele acreditara. Ainda acreditava, mas havia pontos que o deixavam intrigado. Indagava a si mesmo quem nunca ficou intrigado com os conhecimentos que lhe foram transmitidos. Por certo muitos haviam ficado intrigados com questões a estes repassadas, entretanto, João pensou que o problema era que agora quem estava intrigado era ele. Encontrava-se só e isto lhe dava a oportunidade de refletir sobre o que o intrigava, a saber, era a questão do livre-arbítrio.
O livre-arbítrio é a liberdade do homem em escolher o que fazer diante das situações que a vida lhe apresenta. João disto tinha ciência e não era isto que o intrigava porque parece evidente que entre duas ou mais opções é facultado ao homem o direito de escolha. O que intrigava João era o sentido da questão, porque qualquer decisão que ele tomasse Deus saberia de antemão o que João iria fazer, deste fato originara-se a pergunta de qual é o sentido do livre-arbítrio. João acreditava que na vida e na natureza nada acontecia por acaso e que tudo possuía um sentido, embora o homem nem sempre fosse capaz de descobrir o sentido e a resposta de suas indagações.
João sabia que a ciência de Deus sobre qual ação o homem tomará não exclui a liberdade do homem, porque ainda assim o homem pode escolher entre o bem ou o mal ou entre duas ou mais opções. Porém, se Deus já sabe de antemão o que o homem irá escolher, a pergunta que se faz é qual é o sentido da liberdade. Porque criar o homem para viver já sabendo de antemão qual será o seu destino? Criá-lo já sabendo previamente, se irá salvar-se ou se irá perecer.
Esta ideia de que Deus já sabe de antemão o que o homem irá escolher e também já sabe quais serão os acontecimentos futuros, João deduziu do conhecimento que lhe haviam transmitido que o Criador é Onipresente e Onisciente. Ora se Deus é Onipresente e Onisciente evidencia-se que sabe de antemão o que o homem irá fazer, pois tem ciência de todos os acontecimentos e está presente em todos os tempos.
Ciente de antemão do que os homens irão fazer então Deus já criaria os desobedientes para desobedecer e, igualmente, criaria os obedientes para obedecer. Isto não parece ser algo que Deus faria porque é Justo e não seria justo criar alguns homens para salvar-se e outros para perder-se. João sabia que o dizia era baseado nos valores humanos e que estes bem podiam não ser os valores de Deus. Entretanto, o conhecimento que lhe transmitiram era baseado nos valores humanos que ele conhecia. Era através destes valores que alguém obteria o conhecimento que seguido adequadamente o propiciaria alcançar a graça de Deus, então, também deveria ser através destes valores que alguém deixaria de alcançar a graça de Deus.
João sabia que o resultado de suas reflexões não mudaria em nada a realidade dos fatos. Os acontecimentos reais continuariam acontecendo como sempre aconteceram, seja do modo como lhe contaram, seja como ele imaginava que as coisas pudessem ser, o que na verdade ele não imaginava e apenas suspeitava que não fosse do jeito que lhe contaram. E ainda podia ser de um modo que nem lhe fora contado e nem sequer ele poderia imaginar. A questão o intrigava ainda mais porque Deus não iria fazer uma coisa sem sentido, ou seja, Deus não faria um jogo no qual já soubesse de antemão o resultado.