Medo e liberdade

O cidadão de hoje, quer na rua ou mesmo no recanto de seu lar, quer homem do povo simples e trabalhador ou mesmo um burguês, quer invisível ao todo, quer fazedor de opiniões, vive consternado em medos e dúvidas, e em alguns momentos vive bem próximo do pavor e do temor, estando desta forma aberto a aceitar repressões politicas ou sociais, que restrinjam-lhes a liberdade que podem a primeira vista lhes parecer desnecessárias, desde que tão somente, mesmo que de forma falaciosa ou tendenciosa, lhes prometa um mundo mais seguro.

Acabamos assim abrindo mão de um bem valiosíssimo que á nossa liberdade consciente, nosso direito a expressar nossas opiniões, nossa liberdade de ir e vir, nossa capacidade de discordar ou de fazer aquilo que desejarmos, mesmo que o façamos sob o estrito e contingente cuidado de não invadir o direito do próximo, em troca de uma segurança que apenas é fictícia, pois o mesmo sistema que reprime e nos limita, é o sistema que desajusta a condição de dignidade humana da sociedade, através da exclusão de muitos, do preconceito ou da ditadura das maiorias. Ser maioria não significa ser dono da verdade ou detentor do certo ou do humano, ser maioria muitas vezes significa apenas ser maça de manobra, de conivência ou de omissão. Ser maioria significa muitas vezes apenas estar tomado pelo medo de ser diferente, de ousar discordar, ou significa simplesmente fraqueza e interesses pessoais.

O direito a liberdade deveria ser encarado como básico, como um valor humano, mas infelizmente quando nossa segurança está em jogo, ficamos abertos a dispensá-la, e nestes momentos de medo, que o próprio sistema nos impõe muitas vezes por interesses desumanos, acabamos por nos esquecer de atacar as verdadeiras causas originais, que são em ultima análise o próprio sistema politico e econômico, a democracia dos poderosos e ricos, dos investidores, dos donos do capital, sistema este que ajudamos conscientemente ou inconscientemente a manter e buscamos desta forma atacar os efeitos indesejáveis deste mesmo sistema ingrato e desumano em essência, que coniventemente ajudamos a sustentar. A insegurança não é uma causa, mas sim um efeito, nocivo, cruel e indigno, da injustiça humana que realizamos.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 09/02/2013
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