Clorofila

Andei vegetando.

E vegetal anda?

Pois bem, eu andei.

Faz tempo que eu não escrevo, muito tempo.

Não significa que eu não corri, respirei, comi, tomei banho, beijei, andei, chorei.

Eu estava planta, árvore, cacto. Um Vegetal, diria minha amiga Clarice.

Fiz tanto e é como se não houvesse feito nada.

Que lástima.

Eu estava um pouco mais que um monte de folhas secas no chão, que a brisa facilmente levava pelos ares.

Mecanicamente, roboticamente, percorri meus dias e sentia-os.

Não sabia? Robô-planta sente.

A grande diferença era tornar o íntimo, em externo. O sensível, em simbólico.

O que é meu se perdia em mim.

Só as palavras fazem que meu eu seja de outros e minhas vivências minhas de novo.

A memória é fraca e carrega em si armadilhas malditas.

Rapidamente esqueço-me do meu dia e das emoções que tive.

Mas eu as devorei sim, ninguém pode dizer que não as tive, todo tipo de emoção:

a perda, a euforia, a insatisfação, a alegria.

Só não escrevi.

Só.

Eu sei, pouco tenho do tempo de figueira.

Carrego apenas poucas frutas que apodrecem em minha mão e que eu fiz crescer em minha alma. Elas desaparecerão e eu ficarei com nada. Quase nada.

Quando em mim não existirem palavras, de certo eu vegeto e não sabem.

Com meus escritos sou novamente humana,

não árvore.