As provas de amor que eu quero ter

Trezentos e sessenta e cinco botões de rosa delicadamente postos na mesa de trabalho: mais um ano de namoro. Um carro de som berrando , enquanto inúmeros fogos de artifício barulhentos atiçam os pobres cachorrinhos de madame da vizinhança. Um milhão e meio de mensagens no celular, nenhuma muito distante das que você já recebeu e, por muitos motivos- agradeça por isso, acredite!- já veio a deletar. Noites desenhando sonhos em comum, mas todos tão… irritantemente comuns! Nenhum com a pitada ou mesmo a pegada de vocês. Pegada?! Prefiro provas de amor diferentes, mais consistentes. Mais de mim e dele postos na batedeira ou misturados no liquidificador . Um anel de brilhantes, um ataque de ciúmes, um “não” ao carnaval e até mesmo ao tão amado futebol, não me dizem, em bom português- ou mesmo em inglês, coreano e japonês- que ele me ame. Quero um “bom dia” gostoso numa segunda de manhã, uma noite inteira cantando Amy, um peixe à quatro mãos. Um ronquinho charmoso depois das duas taças- ou foram garrafas?- de vinho, que, por um acaso, ainda estão no chão. Quero que ria do meu arroz queimado, que jogue-o fora e me prepare um macarrão. E, por favor, que me tire para dançar- mesmo não sabendo nem o dois para cá e o dois para lá! Que não me inclua em histórias sem vida. Aliás, que me dê vida e que faça uma ou mesmo várias comigo- dois meninos, três meninas, um time de basquete, que seja! Quero que mude meu time, que me beije no Maraca, que me ensine onde ponho e não ponho o guardanapo. Que me inspire a ser. Que fale mal da minha voz e do meu péssimo gosto por mulher. Deixo até que zombe do tamanho do meu pé! Não preciso que me ame em letras garrafais, como quem faz propaganda nos jornais; quero apenas que grite, num simples rabisco na areia, que é comigo que quer gargalhar até que, enfim, tenha que me deixar.