Monologo frente ao espelho quebrado.

A solidão que sinto é diferente de estar só, vem devorando tudo a minha volta.

Insaciável, consumindo o restante de humanidade que me sobra.

Diferente da tristeza natural, que vem e vai, imitando outros sentimentos diários, naturais.

Passam-se as horas, surge à madrugada.

E eu?

Atravesso as portas da morada, esperançoso de encontrar um novo mundo, minha mente vagueia e me transporta a sonhos imaginários e insanos.

Olho para o espelho, então reparo o quanto é diferente tal criatura que se apresenta.

O brilho no olhar já não reflete esperanças e sonhos de uma criança que sonhava em fazer a diferença.

As olheiras que nunca deveriam existir, estão a tanto tempo em companhia, que fazem parte desta face.

O conjunto em si, é bem diferente do que me lembro, é tão vago, inexpressivo, ausente, vazio.

A raiva me salta a boca, mas os urros não saem, não consigo gritar, não consigo me expressar, nem mesmo frente a este único estranho que me conhece.

Penso que deve estar com defeito, não pode haver reflexo para os sentimentos, nem tão pouco para os pensamentos.

Pergunto então a este homem que se projeta a minha imagem.

Quem é você?

Mesmo que continue apenas me encarando morbidamente, a resposta esta clara.

Eu sou o fruto de sonhos perdidos, amores amargos, esperanças desfeitas.

Sou a soma entre deixar passar e não lutar por seus objetivos.

Sou o resultado variante de tudo que você não acreditou ser possível.

Eu sou o que restou de você mesmo.