Outra pessoa

"Por muito tempo eu chorei me perguntando o que ela tinha de tão especial assim. Por muito eu chorei querendo ser ela. Querendo ser ela. Entende isso? Eu quis ser outra pessoa. Eu quis ser outra pessoa por sua causa. Para ficar com você. Para fazer você feliz. Para simplificar as coisas." Clarissa Corrêa

Acho que esse trecho da Clarissa foi escrito para mim ou até mesmo que a autora possa ter lido minha mente ao escrever isso... Ou talvez ela tenha passado por essa situação, um dos piores sentimentos por mim conhecidos: querer ser outro alguém.

Antes de tudo que houve, eu acreditava que você e eu, juntos, combinávamos tanto. Todos diziam e eu via. Via nos seus olhos.

Mas agora percebo que não sou quem você gostaria que estivesse ao seu lado. Não negue. Eu sei!

Não tenho a estatura baixa como ela tem e como você gosta. Tampouco um corpo sensacional... Tudo em cima, academia todo dia, afinal ela não trabalha - ao contrário de quem vos fala, que precisa ralar bastante. Nem se comparam as pernas curvilíneas e, pasme, sem celulite alguma graças as drenagens que faz religiosamente.

Possuo aquela estrutura óssea leve, meu manequim é 36, a tal da Magrela, Olívia Palito, Tábua, que dizem por aí...

Não chamo nem 1/20 da atenção que ela chama. Bem menos me visto bem como ela, roupas grifadas, cabeleireiro toda sexta, maquiagem todos os dias, embora ela não precise de maquiagem para ser "a menina mais bonita".

Meu cabelo é bagunçado e eu sequer tenho tempo de me cuidar como gostaria nessa louca correria.

Não tenho um sorriso lindo - no lugar deles, aparelhos transparentes que de transparentes nada tem, podiam ser invisíveis.

E aquele bronzeado de quem passa a tarde toda na piscina de casa?! Muito menos!! Branco-escritório é meu tom de pele habitual.

Não tenho aquelas mão delicadas, as minhas são longas e finas, quase maiores que as suas. Não calço 36. Não uso salto, pois fico maior que você, ela não ficaria - aliás ela é LOUCA por sapatos, deve ter cinco vezes mais sapatos do que eu.

Ela sai bem em todas as fotos (tem como não sair?) Recebe elogios de qualquer um que a conheça. Apaixonante.

E eu?! Como fico?

Recolho meus caquinhos no chão a cada vez que me lembro disso tudo e tento colar um a um sozinha?

Não mais! Engulo as lágrimas presas à garganta e penso que antes de você e de tudo que aconteceu, o fato de ela ser isso tudo não me faria a menor diferença, nunca liguei para aparências, bem menos para futilidades... Então eu me lembro de mim, do verdadeiro "eu". E eu não desejo sentir isso nunca mais.

Devoradora de Palavras
Enviado por Devoradora de Palavras em 06/02/2013
Código do texto: T4125671
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.