Querer a liberdade

Ardo nas chamas do querer ser livre.

Mas o mesmo fogo que me movimenta é o fogo que me aprisiona.

Até para ser livre requer certa liberdade.

Uma busca desesperada já é por si só se acorrentar no desespero da busca.

Eu grito.

Todos meus seres gritam.

E a cacofonia se faz presente me levando a loucura do desespero pela liberdade.

A cidade clama por me encapsular.

A sociedade, sem esforço ou planejamento, engessa meu caminhar, entorpecendo-me e me fazendo calar por indução.

Anjos e demônios reverberam grunhidos indistinguíveis que quase me convencem de suas existência, que quase me condenam a ser tão somente animal, mas sou eu mesmo remoendo medos e desejos desenfreados de ser, experimentar ou fazer.

Meus olhos inflamam com o que veem, e queimam com o que tento mentalmente criar como realidade do que não é.

Como um vulcão acumulo energia que em algum momento será liberada.

Me perco e quebro qualquer caminho que me ilude como luz e salvação.

Noites iluminadas, dias sombrios em uma vida de faz de conta, um existir irreal, este seria eu?

Tempestades de luz e tormentas de sombras me fazem ceder ao medo de nunca chegar a ser humano.

Devastação do ser, perversão do realizar uma vida. Talvez eu nunca saiba quem sou, talvez eu já saiba quem sou e não goste do que vejo, talvez tenha medo de ser o que realmente sou.

Eu não posso resistir a tentação de buscar ser realista sendo cético do que possa ser, sendo pragmático do que sou, não sendo superficial como os “fenomenistas”, “idealistas”, “empiristas” ou platônicos, mas sempre buscando as engrenagens do viver e os mecanismos da vida real.

Devo assumir? Devo explodir? Devo ousar? Por mais que eu corra me sinto lento para buscar quem eu realmente sou. Devo desistir? Não.. Nunca... Devo muito para muitos, mas devo tudo para mim. Viver é ser, e ser é existir, e somente existiremos sendo o que possamos viver....

Na loucura de mim mesmo, sou eterno devedor da vida, sou pactuado com a morte e o destino final do nada que hei de retornar a ser, não sendo enfim, ao fim, absolutamente mais nada. Mas enquanto vivo sou diferente, não tenho a pretensão de ser melhor, talvez também não seja pior, mas hei de ser humano, custe o que custar....

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 05/02/2013
Código do texto: T4123644
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