Mais um dia de chuva

Mais uma vez, em vão, ela abriu o livro e tentou estudar para a prova que teria no dia seguinte, mas era difícil de concentrar com tudo aquilo. Decidiu então recorrer a sua única saída em horas assim. Abriu o notebook e se pôs a escrever mais algum texto que aquele rapaz leria e, talvez, interpretaria de uma forma completamente oposta ao que ela desejava.

Aquele mês de janeiro estava sendo um mês difícil. De uma hora para a outra parece que a maré de sorte que a estava acompanhando desde aquele dia vinte e cinco de agosto tinha ido embora. E o sol competia espaço com a chuva - tempestade, na verdade - nos dias daquela garota. Repentinamente, como tudo parecia estar acontecendo ultimamente, as nuvens escuras se aproximavam, cobriam o sol e em questão de instantes parecia que tudo vinha à tona. Tudo o que ela estava guardando, tudo o que a vinha angustiando durante todos aqueles dias de sol, tudo o que a entristecia de repente chegava e causava aquela chuva forte e duradoura.

Em dias de chuva como aquele em que ela se encontrava, parecia que o universo conspirava para que ela piorasse. Lá fora chovia e fazia frio e só ela sabia como isso a deixava ainda mais deprimida. Da mesma forma que aquele rapaz que ela tanto amava dizia que estava cansado de tentar fazê-la um pouquinho feliz, ela estava cansada de tentar fazer com que ele visse como ela estava feliz e como ela estava completa ao lado dele. Por que era tão difícil pra ele entender e acreditar nisso? Ele dizia que era impossível alguém ser só de uma pessoa para toda a vida e, enquanto ela escrevia sobre isso, um sorriso magoado se formou em seu rosto. Não! Não era impossível! Era frustrante pra ela não sentir que recebia a mesma confiança que depositava dele. Ela até entendia que chegou a dar motivos para que ele desconfiasse, mas ainda assim...

Enquanto terminava mais um texto sobre seus dias de “chuva de janeiro”, as lágrimas que pouco antes tinha derramado secavam. Isso sim a deixava triste. Não era a falta que a amizade de um garoto que saiu de sua vida fazia, nem a cobrança de sua família, nem suas notas que precisavam aumentar nessa última chance, mas ouvir do seu amor que ela nunca seria cem por cento feliz porque ele acreditava que aquela completa felicidade dependia de uma terceira pessoa sem entender que não dependia.

Meses atrás ela havia escolhido pelo bem dela se afastar de vez e resolver tudo, mas assume que em dias como esse queria um melhor amigo com quem conversar. Ela sempre foi uma garota que deu um enorme valor para amizades e perder um melhor amigo era muito difícil pra ela. Seu namorado havia se tornado seu melhor amigo, mas o que fazer quando quer conversar com alguém que confie sobre essa desconfiança toda que ele sente, por exemplo? Ela não gostava de se sentir sufocada, então em situações assim ela recorria ao seu notebook ou ao velho papel e à velha caneta. O problema era que tudo o que escrevia acabava sendo interpretado completamente errado! Ele nunca entendia que não tinha nada a ver com ela só se sentir completa se aquela terceira pessoa estivesse presente, tinha a ver com ela precisar de alguém, além dele, em quem confiasse pra desabafar.

Ela terminou de escrever um pouco mais aliviada, mas ainda triste. Salvou aquele desabafo em um arquivo do Word e tentou voltar a estudar sabendo que seria em vão.

Debora Santos
Enviado por Debora Santos em 31/01/2013
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