Sonhos não precisam ser sonhados a dois; mas deviam

Sonho, segundo o dicionário, é uma ideia acalentada, ou seja, uma ideia que nos amima (de mimar), é um desejo intenso e vivo. Certamente todos somos motivados por um, dois, provavelmente mais sonhos. Alguns deles foram criados por nós, outros (a maioria) copiados de alguém. Não é raro determinarmos novas direções para nossas vidas, seja no escopo financeiro, físico, espiritual ou sentimental.

Sendo seres obrigatoriamente sociais, fadados a interação com outros de nossa espécie, não podemos ignorar de que somos péssimos sozinhos; o que tem se provado uma grande verdade. Quando desejemos algo sentimos uma necessidade forte em dividir isso, ele PRECISA ser compartilhado com alguém, e quem melhor do que aquele que nutrimos um sentimento afetivo, um amigo, um namorado, um familiar.

Cometemos um grande erro quando sonhamos algo como ideal para nossa vida que dependa de uma outra pessoa sem consultá-la. Um sonho, em suma, é algo que nos impulsiona e todos nós somos movidos por algo, uns pelo trabalho que garante o dinheiro para bancar suas necessidades e luxos, uns por uma condição física garantindo melhor saúde. Mas será que podem duas pessoas serem impulsionadas pela mesma coisa ? Alguns pensam que sim, muitos tem dúvidas, mas a verdade é que é quase impossível que duas pessoas queiram exatamente as mesmas coisas.

Somos seres egocêntricos, presos nesta vontade burra de nos satisfazer, independente do outro; o que ganha ainda mais força neste mundo capitalista em que vivemos. Mas encontramos aqui um sutil paradoxo, como sonhar algo para viver com outro quando estamos tão arraigados em nossos interesses acima do outro sendo seres exclusivamente sociais, e portanto dependentes um do outro ?

É árduo apresentar ao outro aquilo que sentimos como melhor pra os dois; afinal, somos limitados pela nossa vontade mas não só isso, há também o ângulo em que observamos a realidade (isto merece considerações à parte). Não importa se somos bem intencionados ou se temos vontades genuínas; por mais que lutemos contra o fato, estamos lidando com outra pessoa, que carrega seus anseios, medos e personalidade.

Não sei como resolver esta questão; mas sei, com convicção, de que é preciso envolver o outro. Então, quando idealizamos nossos relacionamentos, precisamos convidar o outro a sonhar conosco. É importante não diminuirmos a coisa e simplesmente achar que estamos levando a vida; ela é cruel se não pararmos para resolver o que não foi acertado, o que não foi dito, o que não foi concordado. É frustrante tentar ir contra a realidade e o preço pode ser o desapego, a falta de amor ou ainda pior, o desprezo!

Sonhar é gostoso e saudável, mas pode ganhar uma nova dimensão quando é feito a dois. Por isso afirmo: Sonhos não precisam ser sonhados a dois; mas deviam.

osomello@gmail.com