Nada de Surpresas
Outra parte do meu coração acabou de morrer. As palavras, ainda enlutadas, dispensam algumas estrofes por medo de não se expressarem muito bem. Agora estou sozinha recolhendo os pedaços de um coração que se monta toda vez que acredita ser: Verdade.
Comemoro mais um final, comemoro na solidão lotada de tantos olhos, tantos abraços, uma solidão acompanhada de quase um mundo de sorrisos, mas comemoro sozinha, com mais de milhões de pedacinhos espalhados por cada canto da casa, vai ser preciso bem mais tempo dessa vez, a destruição não se contentou como anos passados, permaneceu um pouco mais do que duas semanas de bares e saudades.
O lado esquerdo da minha vida parou de ser dois, deixou de ser alegria de final de ano, e agora somos dois na mesma cama, sufocando mais um litro de lágrimas. Comemoro outra vez um divórcio das minhas tentativas.
Cansei de ler os mesmos jornais, dar bom-dia aos clichês que a vida não economiza. Agora, sozinha, me recupero mais ou menos de todas as coisas que retalharam o lado esquerdo. E antes que alguém critique minha falta de jeito com a paciência, antes que soltem ofensas aos meus dramas, me recolho, não na covardia dos ombros, mas na carência dos olhos. Comemoro, mais uma vez, sem comparar os outros verões, mais um divórcio.
Outra parte do meu lado fatal acabou de abandonar as malas, deixou todo o peso da separação antes de assinar as passagens ou avisar: Mais tarde eu volto. Agora estou sozinha, deixando os pedaços para mais tarde.
Aquele lado esquerdo que demorou meses para se remontar agora busca forças para ao menos juntar-se aos poucos, por que não é pela dor da saudade, não pela falta, mas por todas as vezes que pensou que seriam outras histórias, por que infelizmente, o lado esquerdo vivenciou mais um plágio de outros meses.