Desatar
Preso em ataduras, ele se revirava. Mas se revirava com cuidado. Aquelas ataduras eram a única pele que tinha. Mas tinham que prender seus braços? Tinham que juntar suas pernas? Para o inferno! Tinha vontade de rasgá-las todas! E o faria se sua consciência não o lembrasse de como doeria e arderia estar sem elas. Soltavam-se alguns dedos e, ao liberar um pedaço do antebraço, a atadura se repuxava num ponto onde ele não imaginava e lá estavam novamente seus dedos presos. Angustiante também era não saber quem era na verdade. Se fosse múmia, teria ao menos a vantagem de não sentir. Então não era isso. Se fosse gente normal, a fronteira de sua carne seria pele: mais espessa, mais móvel. O que era? Para o Diabo! Vejo isso depois. Tentava morder a atadura sobre a boca. Precisava gritar por socorro. Seria sensato gritar? Correria o risco de a pessoa errada ouvir. E quem era a pessoa errada? Era um só? Muitos? A maioria? Ninguém? Só tinha certeza de terem pessoas certas. Precisava acreditar nisso. Começava a sentir a dor dos primeiros rasgos. Pouco espaço havia sido conquistado. E já não sabia quanta dor teria que sofrer para conquistar cada espaço para se mover.