Tu, tempo detestável!
Absurdo! O incansável relógio não nos poupa, ora vejam, nem por um segundo sequer! Inadmissível! Que farei eu então com todas as horas desperdiçadas ao imaginar o crepúsculo de um planeta distante que deve orbitar aquela estrela que observo a fulgurar avermelhada no espaço infinito? Isto tem de ter um fim, ora! Por que todos esses ridículos grãos de areia insistem em escorrer, incólumes, e tiquetaquear a nossa vida inteira? Por acaso não sei eu que cada minuto que se passa é um minuto mais próximo do fim? Estou zangado, furioso! Estou sofrendo a velhice por antecipação e já me sinto no direito de resmungar por aí a golpear o ar com inúteis muletadas.
Mas não seria saudável que eu dissesse a alguém que toda esta histeria ensandecida é apenas a velha angústia que resolveu se disfarçar. Não! Saudável com certeza não seria! Mas quem irá se importar? Que vivam, pois, suas vidas pequenas com seus afazeres que consideram tão preciosos! Estarei aqui a vomitar exclamações contraditórias como sempre. Estarei aqui a observar aquela mesma estrela avermelhada por que continuo achando que o crepúsculo de um suposto planeta que gire ao seu redor deve ser um espetáculo de se encher os olhos!