O presente

O presente não é governado pelo tempo, o presente é a própria realidade existencial. Quem já me conhece sabe que não percebo a realidade temporal como algo que flua, alias o tempo é para mim tão inerte quanto o próprio espaço, ele existe como dimensão, mas está longe daquela visão romântica de passado, presente e futuro (a imagem do tempo como uma seta que sempre voa não é algo que se coaduna com a forma como vejo a dimensão temporal).

Só existe o presente, como só existe o espaço. Tudo é tempo, como tudo é espaço . Na dimensão espacial eu me movimento, assim também na dimensão temporal me movimento.

O sentido de tempo, é uma ilusão criada por uma mente cheia de bugs que tinha de aprender a se comportar, é tão frágil para mim a ilusão de tempo, como o é a sensação de que o sol nasce a cada dia, ou a arbitrariedade da escolha de acima ou abaixo, norte ou sul, leste ou oeste, um lado ou outro, todas estas referências são meramente relativas e somente possuem significado quando escolhido um referencial.

Não existe referencial totalmente inercial que sirva de referência para direção-espaço ou para temporalidade-tempo. Quando escolhemos uma posição e definimos que algo esta acima, somente foi possível pela arbitrária escolha de um referencial, e entendo que exatamente o mesmo ocorra com o sentido temporal, escolhemos, por evolução e costume, ao longo de milhões e milhões de anos, que o tempo flua. A própria teoria da relatividade afirma que o tempo e o espaço nada são independentemente, apenas a unicidade espaço-tempo tem sentido físico.

A instantes li um texto maravilhoso de um verdadeiro poeta deste recanto, neste texto havia uma referência a uma passagem de Alberto Caeiros, o grande Fernando Pessoa, não obstante ser de longe aquele poeta que mais me familiarizo, adoro e respeito, não significa que com tudo concorde.

O que comentarei a seguir em nada diminui a beleza do texto que li, mas mesmo assim ouso comentar que Alberto Caeiros, quando afirmava que preferia a realidade ao presente, estava sendo redundante e afirmando a mesma coisa: a realidade vivente somente existe no presente espaço temporal, assim escolher a realidade é escolher o presente. Entendo que ele queria retirar o foco do tempo, que soterra muita gente com apegos no ontem e no porvir, para as coisas reais e materiais, mas se algo existe de real, somente existe no espaço temporal absoluto, que ocorre sempre no eterno momento presente. Esteja eu onde estiver no espaço temporal, este será o meu presente, posto que somente realizo meu existir neste ambiente.

Quem sou eu, um zé ninguém, um borra botas, uma sombra desconhecida, para me atrever a comentar o grande Fernando Pessoa, mas mesmo assim arrisco este comentário....