A Criação...

Como pessoa que tem alguma actividade criativa numa série de áreas, desconfio sempre quando alguém cria algo de forma pacífica.

O imaginar algo, o criar algo, implica sempre uma boa dose de conflito, de sofrimento, tal a intensidade do que estamos a gerar, porque mesmo em termos naturais a criação implica sofrimento, conflito, ao qual se seguirá algum prazer, alguma satisfação depois de termos feito nascer esse algo, para depois voltar o conflito, a tensão, num ciclo interminável e dinâmico, que ao fim ao cabo acaba por imitar uma vida que se deseja preenchida ou pelo menos o mais completa possível…

Na natureza existe ainda um exemplo bem claro do que acabei de afirmar…: certos metais para serem sólidos têm que serem sujeitos a um processo onde se desintegra parte da sua estrutura, sem contudo alterar a essência do metal, o que faz com que ele, depois de submetido a essas pressões, adquira uma rigidez que o torna quase eterno…

Como imagem utilizo também as melhores amizades de um ser…: entre pessoas que realmente se estimam, além da amizade há também uma tensão, há também conflito que colocam à prova, temperam e solidificam essa amizade.

Claro que posso estar redondamente enganado, claro que podem existir pessoas que criem sem conflito e as suas criações sejam objectos inestimáveis do engenho humano, mas no meu ponto de vista a criação não é, nem pode ser assim, pois é essa dose de sentires por vezes avassaladores que provam que o que geramos além de sentido é intensamente vivido…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 24/01/2013
Código do texto: T4101993
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