O CANTO DA SEREIA, VAPOR BARATO E A FINITUDE DO HOMEM

“Vou descendo por todas as ruas e vou tomar aquele velho navio

Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus

E não me importa mais

Assim eu estou tão cansado, mas não pra dizer que estou indo embora”

Escrever esse texto foi basicamente a necessidade de contar minha versão da história. O Canto da Sereia, que foi uma micro série da Rede Globo sobre um cantora que morre no inicio da trama e todos os outros capítulos são a respeito da cantora que se chama Sereia e sua morte.

Acho que a música Vapor Barato, de Jards Macalé e eternizada por Gal Costa é o fio da meada da produção. No fim a história é sobre uma menina que desde sempre soube de sua vida, hoje chamada de TimeLine, pela profecia de uma mãe de santo que já tinha dito que ela seria linda, faria muito sucesso e morreria cedo. Então, sabendo disso vê-se que a história de Sereia é marcada pela busca desse sucesso que em última instância seria a única parte boa da fatia da vida dela. Com sua beleza e seu canto a Sereia usa todos em busca de seu sucesso, consegue e é imortalizada na Bahia.

Mas o que tem haver com um texto que não pretende ser um spoiller/sinopse? Tem algo haver... A questão é de como somos educados contra esse terror da nossa finitude que no caso da Sereia desde sempre era sabido de sua breve finitude e que talvez explique todos os seus atos no seriado. Passamos pelo animalismo onde saciávamos todos os nossos desejos, pelo terror da idade média e toda sua moral religiosa onde fomos reprimidos, pelo Carpe Diem onde se deve aproveitar tudo enquanto é tempo, pela histeria freudiana e onde estamos mesmo que já me perdi? Acho que estamos nisso tudo ao mesmo tempo recebendo esmolas e dozes de prazer que se resumi a sair vivo e chegar vivo ou a um gole de água gelada ao chegar de uma praia bem ensolarada. Ah, claro, já ia esquecendo do principal que é somos bem sucedidos que já não é tão interessante, o barato é ser o mais bem sucedido. E aí eu insisto na ideia da “hipoteca” e diria que hipotecamos nosso prazer (Foucault diria que é do prazer que haveria alguma mudança e é uma pena ele ter esquecido que nosso prazer também é construído socialmente) e finitude. Sem esquecer que qualquer outra modalidade de tentar viver melhor esse caos que é sabermos que morreremos é marginalizada socialmente e diga-se de passagem é o que a Record fez com a vida da personagem e só pela personagem ser bissexual e filha de santo.

Eu diria que isso justifica a sede de felicidade da Sereia que foi imortalizada na Bahia, mas desde cedo sofreu com a consciência direta e objetiva da sua mortalidade. Cheguei até a pensar o quanto a personagem principal, que deve ser dito foi interpretada pela atriz Ísis Valverde, era completamente egoísta. Mas me bastou parar e pensar um relógio em mim em compassos acelerado em relação aos outros e não sei se pararia pra ver o que o arsenal da moral me permite fazer para ser feliz, já não fazemos em nosso estado normal, quiçá nesse caso excepcional de existir onde a morte é mais do que uma certeza dada, ela tem data e hora marcada e mais, é um fantasma do sucesso e da beleza da personagem.

Jonatha
Enviado por Jonatha em 21/01/2013
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