O Gozo Que Mata

Estou aqui pensando no gozo dos filmes Black Swan (Cisne Negro) e O Anticristo de Lars Von Trier. Duas dimensões do gozo em que há em alguma medida a morte do outro ou de nós mesmos.

No primeiro caso, do filme Black Swan, interpreto como sendo a morte da própria essência da personagem principal que passa por um processo árduo e de compreensão da sua personalidade na peça do Cisne Negro. No filme para interpretar os dois cisnes, o branco e o negro, a personagem passa por testes para descobrir o seu cisne negro que no filme essa descoberta é representada pela masturbação, ausência de técnica e a presença do inesperado, arriscado e a entrega na dança. Na noite de estreia da peça, a personagem já tinha adquirido todos esses elementos necessários para a interpretação e no final do ato geral e no momento do gozo máximo, ela simplesmente “morre ou não morre”, fica a ideia suspensa à interpretações. Para mim ela morre, é o momento do gozo em que de alguma maneira morremos para uma transformação e nesse caso o gozo é insustentável mesmo, ele não cabe ao nosso “eu” anterior ao gozo, precisamos ser refeitos... E é nesse sentido que o gozo nos mata, já não cabemos a nós mesmos. Somos refeitos. Somos transbordados em nós mesmos.

Em O Anticristo, estamos falando da morte da matéria em sua forma mais evidente. No filme a personagem principal do filme praticamente deixa o filho cair da janela do prédio enquanto está transando com o namorado e até há rumores de que o par de sapatos do filho estava trocados (pra mim não são rumores, é uma realidade, o filme deixa claro em uma passagem). Fato é que nesse filme é mais uma prova de que o gozo não é tão sustentável quanto tentam mostrar atualmente onde tudo e todos são sustentáveis. A individualidade da felicidade e a busca pelo prazer fere por vezes o principio e principalmente na sua forma mais elementar, quando não há barreiras morais... Seria pensar o estado de natureza para Hobbes e tantos outros.

No mais, suspeito só ver o gozo sustentável quando engaiolado em todos esses códigos éticos que regem as sociedades. Ah, claro! Não esqueçamos do gozo solidário, esse me parece definitivamente verde!

Jonatha
Enviado por Jonatha em 16/01/2013
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