Negociação reflexiva
À beira de um mar ainda não possuído pelos signos do progresso a prometer comodidades,
como eu, poucas outras pessoas caminhavam numa manhã, bem cedinho.
Um mar despossuído, mas, infelizmente, não tão selvagem que desses signos se abstenha totalmente.
Um mar, apenas virgem o suficiente para que nós caminhantes,
Caminhemos, solitariamente, pela manhã, que clareia.
Nesse solidão, não solitária da manhã, a luz do sol desponta e o vento matutino canta,
suavemente.
Eu e poucas outras pessoas caminhamos, tranquilamente, para lá e para cá.
Enquanto caminhamos nos encontramos, se nada falar.
Mas, parece que saboreando a mesma sensação boa.
Percebo que possuímos as mesmas marcas do tempo e os mesmos desejos com relação a elas.
Sinto-me unida a eles e elas, pois nossos corpos e nossas expressões não destoam.
Pois...
Olho e vejo que, como eu, todos saboreiam a paisagem num concentrado silêncio.
Busca de equilíbrio?
Reparo que marcamos ou relaxamos os nossos passos com a mesma seriedade.
Busca de permanência do que temos?
Respiramos o ar da manhã com a mesma cadência, sem que ninguém se comunique.
Ingestão de algo vital, energia, talvez?
Eu e eles, nossas ações... Vejo, penso e sinto.
Parecemos buscar um ponto médio nas nossas vidas,
Em meio ao movimento de perda que, certamente, cada um de nós sente.
Perda daquilo que acreditamos ter ou algum dia ter tido.
Busca de manutenção?
Um reter para manter?
Um obstruir para não perder?
Não sei...
Sei que é uma busca de juventude como vitalidade, por um saborear diferente,
Do que a vida pode nos dar.
Um saborear diferente do saboreado até antão.
De um jeito bom, nunca, antes, experienciado igual.
Um toma aqui, para ganhar lá,
Num ‘eterno’ e maduro jeito de negociar com a vida para que seja sempre e sempre bela.
(de Assis Furtado – 07/01/13).