COMER PEDRA...
O vaidoso come pedra, por ser menos do que pensa, pensar mais do que é, não avançar no crescimento interior, possuir herética caridade, escorregar e tropeçar nas próprias pernas, sequelado da pretensão, cair do nada para coisa nenhuma, subir em um rodapé achando que chegou no topo do Everest, balbuciar meia dúzia de palavras e achar que é um Demóstenes ou Vieira, escrever alguns períodos sem muita regra e esperar o Nobel de literatura, ouvir alguns aplausos néscios, despreparados, e achar que uma multidão o ovaciona, enxergar a luz de uma vela e achar que entrou nas luzes da Catedral de Chartres iluminada, ouvir todos os sons do órgão o recepcionando, quando nem uma flautinha toca, chegar a um sítio paroquial e sentir que abriram-se as portas do Ópera Garnier de Paris para recepcioná-lo, olhar uma tela pobre de cores por si pintada e perceber nela a mescla da paleta de Delacroix, de Gioto, de Vermeer, de Van Gogh, desenhar um boneco infantil e projetar na sua vaidade a perspectiva do inigualável Salvador Dalí, esculpir tosca figura e incorporar a alma de Bernini como se fosse ele, não saber o que procura, alimenta-o a vaidade, e por isso não sabe o que pode achar, rasteja quando podia estar de pé.
Uma montanha de pedra está sendo engolida, serenamente, os “gênios” estão soltos, vivem suas “gloríolas”, medíocres, e o pior....vão sendo digeridas tranquilamente, as pedras...!!!