As pedras e eu
Um novo ano chegou!
Essa sempre foi uma época de muito ânimo para mim. O brilho da cidade enfeitada para o natal, junto com a mística do 31 de dezembro prometendo um novo ano, com novas oportunidades. Ano novo tudo novo, como se diz. E eu sou do tipo, por mais incrível que pareça, que traça metas para o próximo ano, que realmente acredita que no ano seguinte tudo será diferente e que os problemas do ano vigente irão simplesmente se dissipar com a chegada do novo ano.
É... Sempre gostei do fim do ano. Ao longo da minha vida essa tem sido uma época marcada por entusiasmo e euforia. Foi numa época dessas que almejei novos horizontes e tornei esse meu lema por todo um ano (2011). Animei pessoas desanimadas com a vida, incentivando-as a olhar para o horizonte, onde despontava uma pequena nuvem, e a verem uma grande tempestade surgindo em meio à terra seca. “Ouço som de muitas águas” era o que eu dizia a elas. Muitos deles assim, como o moço do profeta bíblico Elias, não conseguiam ver nada no horizonte. E eu como o profeta os dizia para olharem mais atentamente, pois ouvia som de chuva pesada. Muita gente me veio dizer que começava a enxergar “uma nuvem tão pequena quanto a mão de um homem” (Esse episódio pode ser conferido na Bíblia no 1º livro dos Reis capítulo 18 do versículo 41 até o versículo 44) e eu dizia que essa pequena nuvem traria uma grande tempestade. Por muito tempo fiquei conhecido por esse ânimo...
No entanto, esse ano está sendo diferente. Não estou entusiasmado, eufórico e nem encantado com o brilho da cidade. Não estou traçando metas e muito menos estou ansioso para a famosa contagem regressiva do fim do ano. Se eu acreditasse em papai Noel, esse seria o ano que eu não o esperaria e nada lhe escreveria. E assim estou porque “de vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo” (Adélia Prado). Enquanto alguns olham pedra e veem poesia, como o grande Drummond, outros veem apenas pedra. Eu mesmo já vi muita poesia, hoje vejo apenas pedra. Já vi muitas tempestades, hoje não vejo nem nuvem.
Identifiquei-me com os versos da Adélia Prado, pois não vejo poesia também. Além disso, porque correspondem a uma realidade. Nem tudo na vida vai ser poesia. As vezes não adianta forçar, as pedras serão apenas pedras e nada mais. Sempre fui um idealista e isso me fez decepcionar pessoas queridas por olhar pedra e querer ver poesia. Pois é! Descubro que algumas pedras nunca deixarão de ser pedra.
A Adélia me mostra também que não estou sozinho. Não sou o único que experimenta a sensação de que a poesia da vida foi embora e até mesmo tirada...
Mas não pensem que esse é um texto depressivo ou algo parecido, longe disso. Eu o tiro do fundo do meu coração como um texto “redentivo”. Acredito piamente que de vez em quando Deus nos tira a poesia para nos lembrar de que não é da pedra que temos que extrair a poesia. Muitas vezes ficamos parados olhando pedra e esquecemo-nos do Senhor das pedras. De vez em quando olho pedra e vejo somente pedra, mas Ele nunca vê somente pedra, afinal de contas, Ele pode transformar pedras.
A Bíblia conta a história de quando Moisés chegou com o povo de Israel em um lugar chamado Meribá. E nos é contado que nesse lugar não havia água para o povo. O mais interessante é que também nos é dito que lá havia uma pedra, ou melhor, uma rocha. Conforme eu lia a narrativa que se encontra no livro de Números no capitulo 20, fiquei imaginando aquele povo todo olhando aquela rocha e vendo apenas rocha. O mais surpreendente é que o grande Moisés provavelmente viu apenas uma rocha. No entanto, Deus não via apenas uma rocha. Ele manda que Moisés fale com a rocha que dela verteria água. E assim foi.
De vez em quando Deus me tira a poesia para me lembrar de que não preciso de poesia, mas sim de um Redentor. Ainda não vejo poesia em algumas pedras. E adentro 2013 tendo-as como apenas pedras. Mas estou confiando que meu Redentor me fará ver poesia e não somente pedra.