Solitário a meu modo
            
É notório que a ignorância é uma bênção, o que não implica que a imbecilidade não seja uma maldição. Afinal, o ignorante é aquele que não acumulou informações em seu repertório de conhecimentos e o imbecil é alguém que abraça a estupidez como um estado de espírito.  Para uma coisa há remédio, para outra, não.

Sempre imaginei, todavia, que o saber adquirido fosse algo irreversível e, com o passar do tempo, descobri que não é bem assim.  Tudo em nós que não é utilizado acaba atrofiando e, assim, descobri um tipo de ignorância que é fruto de um contrafluxo de raciocínio. Traduzindo de uma forma bem simples, notei que é possível, sim, estupidificar-se.

Há de se convir que a mediocridade é algo bastante confortável e, não sei se por preguiça ou por fadiga, acabei me aninhando nela.   Era para eu ter dado uma folga para o outrora incessante turbilhão de pensamentos e, sem querer,  acabei dando prolongadas férias para a reflexão.  Por pouco, não aposento o tirocínio.

Contudo, se desativei em larga escala boa parte do intelecto, não há como imobilizar o espírito em camisas de força. Lá por dentro, a consciência se contorce e se remói procurando meios de vazar esses bloqueios do não pensar.

Vivo relativamente bem integrado com o resto do mundo, porém, continuo me sentindo solitário a meu modo.  Padeço de crises de abstinência de “papo-cabeça”, de filosofia de improviso e de humor de sutilezas. Sinto falta do bom gosto refinado, que nada tem a ver com luxo e exuberância, mas que depende de um acentuado grau sensibilidade estética.

Instalar-me na ignorância não fez a vida mais simples, apenas facilitou a convivência com grupos mais abrangentes.  Hoje, me insiro melhor entre as pessoas, mas continuo solitário cada vez mais.