Medo de Lobo Mau
Era fim de 2012 e meu sobrinho (de apenas 1 ano) ia chegar. Eu estava mais que ansiosa com o fato, criava mil e uma expectativas, mil e um planos. E no meio dos meus pensamentos, eis que surge uma ideia mirabolante e logo fui contatar a minha mãe:
-Mãe, eu posso colocar a máscara do lobo para receber o Miguel? – perguntei.
Pra quem conhece a tal máscara do lobo sabe que não é algo bonito de se ver... Nem preciso dizer qual foi a resposta da minha mãe, que alegou que o pequenino iria chorar três horas seguidas se visse aquela máscara – fato que me assustou um pouco e fez com que eu deixasse a ideia de lado – temporariamente.
Então meu sobrinho chegou, e como não poderia deixar de ser eu o recebi com muitos beijos e brincadeiras. Papo vai, papo vem, recordei-me da máscara e logo fui conversar com meu irmão...
-Tenho uma máscara do lobo, posso usá-la para brincar com o Miguel? É que eu tenho uma teoria... Acho que ele não sentirá medo. Acredito que só sentimos medo em tais ocasiões: quando já fomos feridos por um lobo ou quando nos disseram que devemos sentir medo do lobo, pois o lobo é mau...
Dito e feito. Peguei a máscara no alto do meu armário e com ansiedade a coloquei. Estava louca para ver a reação do Miguel! Minha mãe olhava com cara feia, mas cara mais feia do que a cara do lobo não podia existir! Logo apareci na frente do meu sobrinho com a tal máscara... E a reação dele? Choro? Medo? Nada disso! Miguel apenas riu e quis brincar e eu ria mais ainda pois acabara de comprovar uma de minhas teorias... É claro que aquele fato poderia mudar quando ele tivesse uns 3 anos de idade e já soubesse que o lobo é muito mau e quis fazer picadinho de Chapeuzinho... Talvez aí sim meu sobrinho chorasse de medo!
Daí comecei a pensar naquilo... Quantas vezes deixamos de fazer algo, deixamos de nos arriscar, porque nos foi dito que aquela situação era perigosa? É claro que há três tipos de medo:
1. Aquele medo que existe devido um perigo real, quando por exemplo deixamos de ir a um determinado lugar sozinhos pois sabemos que ali é uma região violenta. Esse tipo de medo serve para que sejamos mais precavidos.
2. Aquele baseado em uma situação passada, onde já arriscamos e vimos que de fato nos machucamos; como em uma relação sentimental por exemplo. Esse medo nos faz ser mais limitados. Não é porque nos machucamos 30 vezes que machucaremos 31...
3. E por fim, há aquele que nós sentimos porque nos disseram que deveríamos sentir medo daquela situação ou daquela pessoa, mesmo não tendo tido nenhuma experiência passada que nos fizesse de fato ver que aquele medo tem fundamento. Deixamos por exemplo, de arriscar a mudar nossa vida profissional porque nos disseram que era perigoso. Esse medo limita mais ainda!
Aí lembrei que uma vez eu ignorei todos os conselhos, todas as placas de aviso e larguei um estágio, onde eu já não me sentia desafiada, para tentar procurar outro estágio que coubesse melhor em meus ideais. Muitos disseram que eu deveria ter medo, que era arriscado, que eu poderia não conseguir, para eu esperar mais um pouco. Ignorei com custo tais conselhos. Larguei o estágio e alguns meses depois pude me dedicar totalmente em um processo seletivo para uma vaga de estágio justamente no lugar em que eu queria trabalhar (e que é onde estou hoje)! Consegui!
Mas confesso que em outras vezes deixei o medo me dominar, desisti antes mesmo de tentar, tentando me enganar com a ideia de que “eu não queria mesmo...”. Vejo que isso é comum, muitas pessoas se fecham, não deixam mais ninguém se aproximar, porque um dia elas já foram machucadas ou porque seus amigos dizem que não vai dar em boa coisa. E quando desistimos sem tentar haverá sempre a dúvida: E se...? E se eu tivesse arriscado?
Daí, cansada de conviver com isso, resolvi mudar. Passei a me expressar, me expor, demonstrar, ir atrás, tudo que antes era abominável pra mim. Isso impediu que eu sofresse? NÃO! Sem dúvida não. Mas surgiu uma diferença quando agi assim: nessas histórias eu não mais olhava pra trás... Havia dado o meu melhor, não tinha com o quê me indagar mais sobre o que eu poderia ter feito pois tudo já tinha sido feito! E é incrível, dá uma leveza na alma!
Se eu pudesse voltar no passado, mudaria com certeza muita coisa, mas estou feliz por estar aqui, muito feliz, diga-se de passagem, pois sei que foram os meus tropeços que me trouxeram onde estou: um lugar menos dominado pelo medo. Dá pra entender a diferença? Tive medo de tentar, deixei de tentar e sofri de qualquer forma, arrependida sem saber no que daria. Da outra vez eu também tive medo de tentar, mas tentei, sofri também porque me doei e em contrapartida me decepcionei mas fiquei muito leve por ter dado o meu melhor. E principalmente por ter me permitido! Porque me permiti, sobretudo, crescer. Aí não mais olhei pra trás...
Permita-se! O medo que aparentemente nos protege é o mesmo que nos limita. Permita-se antes que o mundo acabe. Porque ele não acabou em 2012, mas nada impede que ele acabe hoje ou amanhã, pra mim, pra você ou pra todos nós...