Colar de Contas

A vida é como um colar de contas, onde as contas que o formam são nada mais que sonhos.

Eventualmente alguém pode ficar com inveja do colar e/ou ainda por pura ganância puxa-lo de seu pescoço estourando assim o fino cordão que segura as contas. E então todos os sonhos saem quicando e rolando pelo chão. Pode ser que você recupere todos. Pode ser que você não recupere nenhum. Pode ser que você recupere alguns.

Com o passar dos anos também é natural que o cordão se desgaste e estoure. Mais uma vez, sonhos cairão e rolarão pelo chão e mais uma vez você tentará pegar todos. Pode ser também que o rompimento do cordão seja tão discreto que as contas caiam pouco a pouco atrás do seu caminho, antes de todo o conjunto perder a estabilidade e desabar bem na sua frente. E só então você verá quantas pedras deixou cair sem perceber. Pode ser que volte e as encontre. Pode ser que não.

O fato é que inevitavelmente o cordão romperá muitas e muitas vezes seja por desgaste natural ou por outros fatores como até mesmo um lugar que você tenha enroscado ao passar. Um cordão remendado nunca mais será um cordão perfeito. As contas sempre enroscarão ao passar pelas emendas. As vezes não passarão.

Pode ser que seu colar fique tão remendado que se torne apertado em seu pescoço e então você sentirá o peso de todas as pedrinhas esmagando sua traquéia, te sufocando, te matando. E talvez nem sejam sonhos seus. Talvez nem seja o seu colar.

Talvez seja grande demais.

Talvez seja pequeno demais.

Talvez você nem tenha tido a chance de montar um colar antes que te dessem um pronto.

Ou talvez seja melhor não ter um colar. Talvez seja melhor recolher todas as pedras que apareceram no seu caminho para que enfim, um dia em sua velhice, você possa passar um cordão por elas e então erguer com o orgulho e dizer:

“Isso foi a minha vida e da minha vida eu fiz um sonho”.