Medo

Eu sou cada um dos seus pontos cegos, aquele arrepio na sua nuca quando você tenta me enxergar. Eu sou o quarto inteiro quando você apaga a luz, e apenas a sua imaginação quando a lâmpada acende. Eu sou a parede atrás de você no espelho, eu sou as notícias de sangue na TV. Eu sou a frieza na voz de quem você ama, e aquela foto que ameaça perder a cor. Eu sou os boatos, os tempos difíceis, os avisos no verso das carteiras de cigarro, o motoqueiro que te encara no sinal fechado, a mancha estranha que aparece na sua pele, o som do telefone no meio da madrugada, a ansiedade que não te deixa dormir. Eu sou tudo que você não conhece.

Sou teu vigilante e teu carcereiro. Eu prevejo o teu futuro e apavoro o teu presente. Estou aqui, bem ao seu lado agora, mesmo que você negue a minha existência. Eu estou nos seus planos, na sua rotina, debaixo da sua cama, bem na sua frente quando você fecha os olhos no chuveiro. Toda vez que você sobe, eu quero te ver cair. Meu prazer é te ver frustrado e seguro, pois a única razão da minha existência é te isolar da vida.

Não me rejeite, não tens idéia de quantas vezes eu te salvei a pele. Sabe o que seria de você sem mim? Na verdade eu não sei. Talvez mais um cadáver na página do jornal, talvez alguém feliz e bem sucedido. Não pense em mais nada, me deixe planejar tudo pra você. Eu enxergo mais que a sua própria visão, bombeio o seu sangue mais que o seu coração, eu sou você, mais que você mesmo.

Felipe Leite
Enviado por Felipe Leite em 10/01/2013
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