VIVER

A vida não só nos parece curta, ela é realmente curta, mais curta ainda parece para aqueles que não encontram alguma felicidade sincera no viver. Porque somos mais infelizes do que parece aos olhos dos outros, e porque somos fatais, percebemos nossa finitude como algo que nos assusta, mas não adianta fugir desta finitude, ela é um fato estabelecido, desde que a natureza ousou evoluir para a reprodução sexuada, trocando variedade-especialidade por finitude.

A finitude é real, não apenas porque todos que já por aqui passaram morreram, pois isto seria blasfemar por indução. Nossa finitude é um fato porque a biologia assim o faz. Telômeros vão reduzindo, erros de cópia, a bio-química vai sendo perdida, a oxidação ocorre, além de doenças, acidentes, suicídios, assassinatos e outros eventos, o que impossibilita a nossa eternidade “mental-bio-química”.

A finitude nos assusta muito, buscamos desesperadamente alguma esperança, mesmo que ilusória, na continuação do viver. Nos arvoramos em questionar que “TEM” que haver algo mais, não podemos ser finitos em nós mesmos, “porque nada teria sentido”. Que arrogância exigir sentido acima de nossa finita vida, apenas para mascarar nosso medo do fim definitivo. Porque buscar mais alguma razão do que a simples, quase mágica, magnífica e frágil existência do viver. Vivo, posso ser, posso realizar, posso sentir o prazer da vida, isto é a maior razão, por si só, para existir e aproveitar a vida, com dignidade humana.

Se tivesse muitas vidas poderia errar e ter a chance de em futuro concertar meus erros, ou pagar por eles, mas se tenho uma única vida, uma única chance de existir, tenho assim uma única oportunidade de experimentar o viver, de existir, de amar, de buscar a felicidade, de deixar exemplos para todas e em especial para meus filhos, e de possibilitar aos meus filhos algum orgulho sincero do pai que possuem.

Uma vida, uma chance. Porque perdê-la? Este é o motivo maior de realizar nosso viver. Se não fossemos finitos, a eternidade por si só nos permitiria em algum momento do presente infinito encontrar a felicidade, mesmo que nada fizéssemos para tal. Se fossemos felizes, realmente felizes, felizes em verdade, a finitude da vida seria algo muito mais suave, posto que teríamos realizado a maior procura de todos nós que é encontrar a felicidade, e a morte seria assim mais aceitável. Como a vida é finita, e como não somos em média felizes, a morte muito mais nos assusta.

Não falo de uma felicidade estoica, daquela que mesmo perdendo um filho continuaria feliz, daquela em que sofrendo de doença terminal ou tendo algum amigo sofrendo de dores absurdas mesmo assim fosse feliz, não falo de felicidade alienada, ou de felicidade ilusória, entendo não ser possível realizar a felicidade em estado de dor mental ou física enorme, ou mesmo passando necessidades básicas, como vivendo em miséria, abandonado e excluído, mas falo daquela felicidade humana, possível e se nunca perene, falo daquela felicidade de espirito natural.

Sim a vida é curta, e deve ser um motivo a mais para realizarmos nossa verdadeira humanidade.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 08/01/2013
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