Rascunhos
Não trabalho mais com rascunhos. Rascunhos me amedrontam e me consomem. Penso e reviso e amasso e reinicio e perco pedaços do todo. Reinvento a roda e a espontaneidade me foge. Perco o foco, perco o fim.
Rascunhos me serviam para tentar prever as respostas do outro. Relia-os com todas as entonações possíveis e imaginava o desencadear de entendimentos. Que besta! Acreditava poder prever as reações, e as reações das reações, até o momento em que precisaria retornar a novos rascunhos.
Ao final, um telefonema... Está aí algo que não consegui prever!
Pois desisti das palavras perfeitamente encadeadas, da pontuação enigmática, dos parágrafos divididos de forma estratégica. Tanto trabalho para me lerem na diagonal! Tanto trabalho para lerem mais do que há! Tanto trabalho e sem ele o resultado seria o mesmo...
Chega. Se tropeços ocorrem, bah! Passo por cima. Ao menos não levei horas planejando.