Escarnecido
Que há? Menos que nada. Se um dia já houve alguma reclamação vã, algum desejo pífio de morte, bom, esse dia ficou enterrado junto com a verdadeira vontade de viver. Mesmo que eu, menos do que antes, não saiba dar vazão ao que (não) sinto. Pareço ter sido encurralado (por mim mesmo) nessa compulsão de me destituir de tudo que vou precisar depois, assim como faço quando chego em casa e tiro as roupas que depois terei de usar novamente. E só sobra essa cueca suja rescendendo à merda que é o horizonte dos dias vindouros.
Será que preciso de terapia, de remédios? Sim, de remédios... Algo como um anestésico tópico que me impeça de sentir a dor que as agulhadas da inutilidade dão. Algo que tolha esses gemidos esganiçados que dou quando vejo o progresso passando ao meu lado enquanto tento desatar os nós da corda a qual me atei ao vazio, ao vazio inominável da minha insignificante existência; essa insignificância que, mesmo sendo rasa e englobando todo o significado que a palavra impinge, ainda ousa me içar aos céus, me dar ares altaneiros e me fazer observar que talvez o problema, mesmo, de verdade, esteja ao meu redor, no círculo que estou inserido, no pedaço de chão a qual limito subsistir nos meus dias sem sentido. Não, não. Já estou fazendo o que todos fazem: tirar o cu da reta. Tirar esse cu que atiro e enterro toras todos os dias, dia após dia. Sabe? Cansei de chutar pedras. Espalhá-las para longe de onde elas deveriam ficar por serem mais úteis: encimadas no meu túmulo.
Fim.
04/01/2013